terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A grande Mãe

Tanto no período tifonico quanto no período baixo da era do pertencimento (9.500 BC a 4.500 BC), a humanidade reverenciou a figura da Grande Mãe. (Em 4.500 BC chamamos de período alto da era do pertencimento, quando aconteceu uma explosão cultural sem precedentes na história). Emerge então no período anterior um novo medo da morte, e novos substitutos para a imortalidade. As pirâmides simbolizam essa tentativa de vencer thanatos. O nascimento da civilização corresponde ao nascimento de grandes egos!
O autor faz distinção entre a figura natural-psicológica do mito, que chama de “Grande Mãe”, e a figura metafísica-mística, que chama de “Grande Deusa”. Com isso, diferencia os níveis de consciência 3 (mítico) e 6 (Sutil), de acordo com a taxionomia proposta.
Traçando paralelos onto-filogenéticos, aos cinco meses o bebê começa a se diferenciar da mãe. Esse processo se completa aos 18 meses, e aos 36 meses ele termina. “A mãe é a parceira com quem a criança desenvolve seu drama de separação”. O pai só entra em cena na fase do ego.
A relação com a mãe envolve o conflito entre ser um ser separado e o "não ser" (Nível urobótico) ; Entre estar imerso e indiferenciado. Essa dupla abordagem sustenta a visão antagônica entre a mãe boa (Grande protetora) e a mãe má (Grande devoradora).
As evidências arqueológicas encontradas sustentam essa idéia. As primeiras esculturas paleolíticas iniciais eram figuras maternas. Essas estatuetas foram talvez o 1º objeto de posse da humanidade. Em algumas tumbas foram encontradas até 20 estátuas!
O sacrifício estava no centro da mitologia da época. A lua era vista como “amante” da terra. A lua morria três dias, e renascia para um novo ciclo. Na época não se associava gravidez com sexo. Crianças a partir de cinco anos já faziam sexo e não engravidavam. Relacionavam-se 100 vezes e a menina/mulher só engravidava uma vez a cada nove meses. Qual a razão? Para aquelas mentes era bastante óbvio: A causa era o sangue! O sangue era o responsável pela gravidez!
Quando ela estava grávida ela não menstruava! Portanto, por analogia concluiam que o "sangue"(menstruação) tinha “fecundado” a mulher!
O conceito de pai também não existia. O filho era o seu próprio pai (Transava com a própria mãe). E morria para renascer. A figura do falo e do amante era bastante secundária naquela sociedade.
Wilber chama atenção para a semelhança com a mitologia cristâ: A grande mãe era a Deusa, e a amante era virgem. Os primeiros homens cristãos se reuniam (como fazem até hoje) em clubes para celebrar a sua masculinidade.
A conclusão mágica da época era que a mãe natureza precisava de sangue para ser fértil. Pois a vida dependia de sangue para existir. A crença social implícita e semi - consciente poderia ser descrita assim: “Se você quer promover a vida, você tem que comprar sangue”. A partir dessa premissa, o banho de sangue que caracterizou a época é compreendido. Até os Reis voluntariamente se sacrificavam (Regicídio) pelo bem de sua comunidade.
O Ritual com sacrifício era o substituto mágico para a transcendência e para a imortalidade.
Os mitos contam muitas histórias de o que acontecia com aqueles que ousavam desafiar ou trair a “Grande mãe”. O final dessa estória é sempre trágico. O ego, portanto, não conseguia se desvencilhar da natureza, de seu pertencimento imerso, de sua sina indiferenciada. A estória que estes mitos contam é sempre a mesma: A ideologia/condição da grande mãe demanda a grande dissolução: O sacrifício do Eu separado.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Coincidência Significatvia

Sentimos no íntimo que o futuro já está, pelo menos em parte, determinado e que é possível antecipar o nosso destino individual por meio de premonições e pelo isso da técnica de predição que vão da astrologia ao uso das cartas do Tarô ou dos cristais.
Por que isso? Será que é porque homens e mulheres sempre tiveram o desejo de se sentir parte de um Universo ordenado por padrões previamente estabelecidos, tendo se desiludido aí a ponto de querer suprimir a verdade de que, vista em escala cósmica, toda vida e a atividade humana são, em última instancia, coisa sem sentido?
O materialista tradicional deverá responder “sim” à primeira pergunta e “não” à segunda. Ele poderá concluir que não concorda plenamente como provas, mas um número muito grande de pessoas, hoje e no passado, já afirmou ter passado por experiências individuais que as convenceram da existência de um vasto plano cósmico, do qual suas vidas são pequenos detalhes.
A mais comum dessas experiências é, talvez, a “coincidência significativa” que, ocorre quando dois ou mais eventos ocorridos ao mesmo tempo, sem ligação causal, ganham significado especial ao serem relacionados. Ao usar a expressão “sem ligação causal” quero dizer que nenhum dos eventos causou o outro e que, ao que saibamos, eles não foram produzidos pela mesma força externa.

Ter sorte na vida

Todos nós queremos ter sorte na vida. A maioria das pessoas “confia na sorte” quando parece que as coisas caminham bem. Algumas se preocupam tanto com o assunto que tentam encontrar formas de predizer o futuro ou pessoas que façam isso por elas.
A crença na existência da sorte pessoal tem caracterizado quase todas as culturas humanas. Ela traduz na vontade de correr riscos – porque, de uma forma ou de outra sentimos que vamos “vencer”, que o acaso pode ser mais simples acaso e que existe “algo” misterioso que pode ser benevolente conosco em sua essência.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Algumas teses equivocadas sobre a América Latina ( e o mundo)

Em "Pátria Latina"
Do "Blog do Emir"
Emir Sader


1. A crise atual levou ao fim do neoliberalismo, da hegemonia norteamericana e levará ao fim do capitalismo.

- O maior equivoco desta visão é considerar que um modelo ou uma hegemonia ou um sistema social se termina sem que seja derrubado e/ou substituído por outro. Conforme o Sul do mundo ou outro bloco alternativo proponha alternativas e seja capaz de as construir. O neoliberalismo não terminou, se tempera com graus de apoio estatal.

2. Pode-se e deve-se “mudar o mundo sem tomar o poder”.

- O projeto de transformações profundas da sociedade “pela base” sem que desemboque na alteração das relações de poder não levou a nenhum processo real de transformação das sociedades latinoamericanas. Ao contrário, os movimentos sociais – como os bolivianos – que transformaram sua força social em força política, são os que protagonizam processos reais de mudança do mundo.

3. O Estado nacional se tornou um elemento conservador.

- Os governos progressistas da América Latina estão valendo-se do Estado, seja para regular a economia, para induzir o crescimento econômico, para desenvolver políticas sociais – entre outras funções -, enquanto os governo neoliberais são os que desdenham o Estado, transformam em mínimas suas funções e deixam espaço aberto para o mercado. Os processos de integração regional e de alianças no Sul do mundo também tem os Estados como protagonistas indispensáveis.

4. A política se tornou intranscendente.

Falsa afirmação. Os governos progressistas da América Latina resgataram o papel da política e do Estado. Se não tivessem feito isso, não poderiam reagir da forma como reagiram diante da crise.

5. Há milhões de “inimpregáveis” nas nossas sociedades.

- Esta afirmação, originalmente de Fernando Henrique Cardoso, tentava, buscava justificativas para os governos oligárquicos, que sempre governaram só para uma parte da sociedade,excluindo aos mais pobres, agora sob pretexto de um suposto “desemprego tecnológico”, que prescindiria de grande parte dos trabalhadores. Os governos progressistas associam retomada do desenvolvimento econômico com elevação constante do emprego formal e aumento do poder aquisitivo dos salários.

6. Os movimentos sociais devem se manter autônomos em relação à política.

- Os movimentos sociais que obedeceram a essa visão abandonaram a disputa pela construção de hegemonias alternativas, isolando-se, quando não desaparecendo da cena política, quando se passou da fase de resistência à de construção de alternativas. Enquanto que movimentos como os indígenas, na Bolivia, formaram um partido – o MAS -, disputaram e elegeram seu maior líder presidente da república. Em outros países, os movimentos sociais participam de blocos de forças dos governos progressistas, mantendo sua autonomia, mas participando diretamente da disputa pela construção de nova hegemonia política.

7. Só se sai do neoliberalismo para o socialismo.

- Houve quem afirmasse que o capitalismo tendo chegado a seu limite – seja pela mercantilização geral das sociedades, seja pela hegemonia do capital financeiro – com o modelo neoliberal, só se sairia para o socialismo. Sem levar em conta as regressões nos fatores de construção do socialismo nas ultimas décadas, não apenas o desprestigio do socialismo, do Estado, da política, das soluções coletivas, do mundo do trabalho, entre outros. As transformações introduzidas pelo neoliberalismo – entre elas, a fragmentação social, o “modo de vida norteamericano” como forma dominante de sociabilidade – representam obstáculos a ser vencidos em longa e profunda luta política e ideológica, para recolocar o socialismo na ordem do dia.

8. A alternativa aos governos do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, está à esquerda e não à direita.

- O fracasso das tentativas de construção de alternativas radicais, à esquerda desses governos, confirma que a polarização política se dá entre os governos progressistas e as forças de direita. Esta situação tem levado a que, freqüentemente, setores ideologicamente situados à esquerda desses governos, tenham – objetivamente ou mesmo conscientemente – se aliado ao bloco de direita, terminando por definir, na prática, nem sequer uma eqüidistância dos dois blocos constituídos, mas até mesmo considerando ao bloco progressista como seu inimigo fundamental.

9. Os processos de integração atuais são de natureza “capitalista”.

- Esta visão desqualifica todos os processos de integração regional, porque não se dariam mediante uma ruptura com o mercado capitalista internacional, porque representariam integrações no marco de sociedades capitalistas. Se incluiriam não apenas Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, mas também Venezuela, Bolívia, Equador. Se deixa de compreender a importância da criação de espaços de intercambio alternativos aos Tratados de Livre Comércio. Não se entende a importância da luta por um mundo multipolar, debilitando a unipolaridade imperial norteamericana. Não se entende como a Alba promove formas de intercambio alternativas ao mercado, às regras da OMC, na direção do que o FSM chama de “comércio justo”, solidário, de complementaridade e não de competição.

10. Existe uma esquerda boa e uma esquerda ruim.

- Quem prega esta posição quer dividir a esquerda, tentando cooptar seus setores mais moderados e isolar os mais radicais. A esquerda é antineoliberal e não a favor dos TLCs, privilegia as políticas sociais e não os ajustes fiscais, com os matizes que tenha cada um dos governos progressistas.

11. O período atual é de retrocessos na América Latina.

- Alguns setores, com critérios desvinculados da realidade concreta, difundem visões pessimistas e desalentadoras sobre a América Latina. Às vezes usam o critério da posição dos movimentos sociais de cada país em relação à constituição dos governos, para definir se há avanços ou não, ao invés de definir a natureza desses movimentos em função da posição que tem em relação a esses governos. Subordinam o social ao político, sem se darem conta dos extraordinários avanços do continente, ainda mais se comparados com a década anterior e com o marco internacional, profundamente marcado pelo predomínio conservador. É um pessimismo produto do isolamento social, de quem está à margem das formas concretas pelas quais avança a história no continente.

12. Em eleições como a uruguaia, a brasileira e a argentina, para a esquerda, tanto faz quem ganhe.

- Há quem diga isso, como se a vitória de Lacalle ou de Mujica representassem a mesma coisa para o Uruguai e para a América Latina, como se o retorno dos tucanos ou a vitória de Dilma tivesse o mesmo sentido, como se a substituição dos Kirchner por Duhalde, Reuteman, Cobos ou algum outro prócer da direita argentina, significasse o mesmo para o país. Consideram que se tratariam de “contradições interburguesas”, sem maior incidência, desconhecendo o alinhamento das principais forças políticas e sociais de cada um dos dois lados, mas sobretudo as posições – de aprofundamento e extensão dos processos de integração regional ou de TLCs, de prioridade das políticas sociais ou de ajuste fiscal, do papel do Estado, da atitude em relação às lutas sociais, ao monopólio da mídia privada, ao capital financeiro, entre outro temas, que diferenciam claramente os dois campos.

13. O nacionalismo latinoamericano contemporâneo é de caráter “burguês”.

- Desde que ressurgiam ideologias nacionalistas na América Latina, com Hugo Chavez, houve gente que se apressou a comparar com Perón, a desqualificar como “nacionalismo burguês” ou simplesmente de nacionalismo, que nada teria a ver com luta anticapitalista, etc. Usaram, aqui também, clichês, sem fazer analises concretas das situações concretas. O nacionalismo de governos como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, que recuperam para o país os recursos naturais fundamentais de que dispõem, são parte integrante da plataforma antineoliberal e anticapitalista desses países. Cada fenômeno adquire natureza distinta, conforme o contexto que está inserido, cada reivindicação, conforme o governo, assume caráter diferente. No caso do nacionalismo atual na América Latina, ele promove, além disso, processos de integração regional, tendo assim um caráter não apenas nacional, mas latinoamericanista

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Saudações à nova Era

"Já diziam os oráculos da verdade, a única coisa que o homem possa a vir sucumbir é à mudança. Seres mais evoluídos com toda a certeza já vem preparados de berço para transmutar. Temos visto por todas as partes. Acompanhado a evolução individual e coletiva; temos visto as veredas daqueles que passam por nós e nos acompanham. Coisas boas nos apontam, sem dúvida. Talvez a mudança latente em algo superior inspire os outros a buscá-las sem temor, afinal, mudar faz parte do evoluir.
No Brasil, vemos um movimento interessante, de desalienação da sociedade civil. Por muito tempo, estivemos lacrados nos baús do Leviatã sem por muito ter o que questionar. Nos disseram que precisaríamos de tempo para maturação da civilização. Hoje, a fusão da meia geração X com meia geração Y, nos proporciona uma ótima discussão sobre as futuras possibilidades. O momento de traçar o futuro é somente no presente. O agora fala mais alto do que qualquer tempo. Temos o tacão de ferro dominante gritando mais alto do que nunca.
O medo agora é o do lado de lá.
É chegado o momento de uma mudança espiritual: abdicar os preconceitos que temos sobre nós mesmos, e fazer algo diferente. Para a vida de cada um.
É o momento de saudação à Era benvinda, Aquários já antevê a abundância.
E num período de preparação, que fiquemos cientes de que a mudança virá, e cada um terá de escolher se pretende mudar ou não."

Saudações

terça-feira, 8 de junho de 2010

Liberdade de expressão x liberdade de imprensa

No conversa afiada de hoje,

O professor Venício A. de Lima acaba de lançar pela editora Publisher o livro “Liberdade de expressão x Liberdade de imprensa – Direito à Comunicação e Democracia” .

Ele conversou com Paulo Henrique Amorim por telefone.

Sobre a diferença entre Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa, Venício Lima explicou que “liberdade de expressão” é um direito do indivíduo, um direito fundamental do ser humano, o direito à fala.

“Liberdade de imprensa” é o direito de imprimir, “print” em inglês. Com o passar do tempo, o direito de imprimir se tornou o direito de grandes conglomerados empresariais.

PHA perguntou a quem, no Brasil, beneficia a confusão entre “direito de expressão” e “direito de imprensa”.

Venício Lima respondeu: beneficia os grandes grupos de mídia.

É uma confusão deliberada, porque, como ninguém é contra a liberdade de expressão, misturar uma liberdade à outra é uma forma de assegurar a liberdade dos grandes grupos empresariais da midia (e só a deles – PHA).

O livro do professor Venício de Lima relembra as conclusões da Hutchins Commission – Uma imprensa livre e responsável.

Robert Hutchins, reitor da Universidade de Chicago, reuniu, entre 1942 e 47, treze personalidades do mundo empresarial, para, sob encomenda dos grupos Time-Life e Enciclopédia Britânica, entender por que a imprensa era tão criticada.

Para enfrentar os críticos, a Comissão Hutchins sugeriu que a imprensa praticasse o “bom jornalismo”, ou seja, respeitasse a objetividade – e separasse opinião de informação – , a exatidão, a isenção, abrisse espaço para a diversidade de opiniões ( e, não, só para o PUM – o Pensamento Único da Midia – PHA) , e buscasse o interesse público.

PHA perguntou se no Brasil, hoje, o PiG (a grande midia) respeitava os princípios desse “bom jornalismo” da Comissão Hutchins.

Venício respondeu: Não !

domingo, 6 de junho de 2010

Frei Betto e os "oráculos da verdade"

Blog do Miro, por Altamiro Borges

O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos (O que é o Iluminismo?) sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos oráculos da verdade: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.

Esses, os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.

São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.

São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.

É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, gado doméstico, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.

Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam: Não pensem! Obedeçam! Paguem! Creiam! O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: Não pensem! Gastem!

Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a um rebanho de animais tímidos e industriosos, livres da preocupação de pensar.

O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. Consumo, logo existo, eis o princípio da lógica pós-moderna.

Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo.

Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.

Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.
Altamiro Borges, no Blog do Miro

A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o do vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurado por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.

A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.

Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Essa, a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Veja, mas não me aborreça


Ontem, estava na fila do mercado aguardando minha vez e resolvi folhear a Veja para passar o tempo. Para passar o tempo inocentemente, li a matéria "A farra da Antropologia oportunista", uma daquelas que são auto-explicativas. Explico: una um belo título com a fotografia de Indíos, somado ao atual debate sobre a Usina de Belo Monte. Fiz a besteira maior de procurar referências e sendo este meu ato o grande causador deste post, um dia mais tarde, e espantando, fechei a revista ao ver Eduardo Viveiros de Castro "falando" que só era índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original. Acho que pela minha sonolência do momento, minha revolta se restringiu ao intervalo entre o bater de folhas da revista e entrar no carro para ir para casa.
Não fiquei exatamente surpreso com a matéria, pois não a li no inteiro teor. Fiquei aliviado ao ler o viomundo e o conversafiada hoje pela manhã,que ambos tinham uma manifestação do próprio Eduardo, ainda mais indignado, dizendo que queria muito saber quem tinha escrito aquela matéria mentirosa.
Me deixa surpreso sim, constatar que em meio à uma democracia que prega tanto a liberdade de imprensa e de informação, vivamos literalmente na Anarquia de Bakunin, e ainda que isso não fosse uma coisa boa, acabar por concluir que a direita realmente não existe, não tem nem virtude sequer fortuna.
Realmente, a Veja não quer que você enxergue.


(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
Paulo Henrique Amorin

sábado, 1 de maio de 2010

Se ao final de um evento não se entender que o movimento do universo é proporcional ao momento da nossa escolha, então fatalmente daremos o nome a isto de apenas uma coincidência.E isto será apenas um acontecimento.

Factory Girl


Existe uma barreira artificial entre as pessoas que querem ser diferentes e as que simplesmente despertam o sentimento de diferença nas outras, sem fazer muito esforço. Sem dúvida nenhuma, Andy Warhol continua sendo até hoje uma dessas que, inexplicavelmente, provocam um sentimento em todos que o conhecem. Ter contato visual com algo que Andy Warhol fez é suficiente para que não se passe indiferente.Os que gostam, conseguem enxergar nele uma magia de um gênio que recriou um conceito de enxergar um mundo à sua época. Os que não gostam,relutam em aceitar a arte tão óbvia, ou sem técnica aparente.
Seja para elogiar ou desmoralizar, é difícil ignorar Warhol.
Ao assistir ao filme, me convenci disto. Talvez o maior legado de Andy Warhol não seja o impacto ou a falta de criatividade na sua obra, ou qualquer outra coisa que faça com que as pessoas gostem ou odeiem alguma outra coisa. Chego a conclusão pessoal que Andy, foi uma destas pessoas que aproximam todas as outras através da linha tênue do livre-arbítrio. Se isto foi previsto por ele, devo então admitir sua genialidade. Seja qual foi a intenção dele, me parece que sua obra é apenas um instrumento para que as pessoas se questionem, e defendam seus pontos de vista com fundamento no princípio básico da liberdade, em que cada um deve escolher aquilo que acredita ser melhor para si mesmo.
No filme, Eddie Sedgwick ( Sienna Miller) parece ser o oráculo de Andy, e uma daquelas respostas que conseguem chegar antes de todas as perguntas. Afinal, o quê queria dizer Andy Warhol?
Talvez Andy mesmo não quisesse dizer nada. E é exatamente aí que está o grande segredo.

domingo, 18 de abril de 2010


Sorte ou azar, por ter nascido na terra dos Carnavais, terra esta que fazia sol de fazer o caboclo se arrepender de ter nascido e de presenciar a seca que faz o ovo fritar no chão batido e terra esta que chove e faz frio no mesmo dia, morava um dos deles, chamado Albuquerque. Costumavam lhe chamar pelo patronímico por ser tradição, fazia soar a importância da história da família, mas ele realmente não tinha importância social. Não era advogado, tampouco se formou em Medicina.
A terra dos Carnavais, era a de sua região, de longe a mais previsível. A menos efervescente em ideias, os que ali nasciam sabiam exatamente o que estariam fadados no decorrer de suas vidas. Alguns plantavam, outros tantos trabalhavam em escritórios, mas a maioria mesmo saía da floresta em busca de uma nova oportunidade na grande cidade. Esteticamente parecia uma cidade como qualquer outra: vias cheias de carro, trânsito insuportável e fumaça para todo o lugar; no mesmo local se concentravam sedes da burocracia carnavalesca, os órgãos do Estado, as universidades bolcheviques, gente correndo para matar o tempo, gente ganhando dinheiro em cima de tantos outros e tantos outros palestrando para matar a fome da grande maioria, enfim, um grande aborrecimente nacional. O fato é que ilusão ou não, o País se fantasiava uma vez por ano para travestir que na verdade, não era uma terra de verdade, e seus cidadãos, faziam com toda a pompa bravejar sua honestidade, hospitalidade, e força para lutar e caminhar mesmo com todas as dificuldades do Carnaval. Mas talvez o mais bonito, era o bom senso. Além de muitos se acharem inteligentes por sua educação política, o poliglotismo era muito valorizado. Há quem diga que quem falasse latim até conseguisse um lugar melhor no céu. E assim ia, como quase que uma escala pluviométrica, iam lhes enchendo a cabeça de que títulos pudessem ser como a água, para levar-los para algum lugar melhor. Com certeza, se não fosse a terra dos carnavais, a terra dos carnavais com certeza seria a terra dos títulos.
E não à toa, que voltemos na história de Albuquerque, que apesar de ter nascido e vivido e ter sido educado na terra dos carnavais, ainda era diferente. Sua família lhe estranhava pela sua ingenuidade, pela sua prestreza e pelos sentimentos que tinha pelas outras pessoas. Sentia pena e comoção quando via alguém com fome, mesmo que os traunsentes considerassem aquilo normal. Sorte ou azar, começaram a lhe enxergar como a própria revolução: era bizarro e ao mesmo tempo um guru dos tempos. Não entendiam porque não lhe convia seguir as regras que toda a história havia seguido. De seu modo de vestir à sua forma de pensar, diriam os burocratos em latim que era o próprio "ad hominem". Mas talvez o que mais chocasse era sua forma genuína de pensar: pensava por conta própria e isso era realmente perigoso. Lhe recorriam por vezes para tentar descobrir o que havia de errado, com insucesso.
Com esta história, Albuquerque nasceu e viveu. Sua família nada pôde fazer por muito tempo a não ser começar a cogitar a possibilidade de remendar Albuquerque, dando lhe trabalho e ocupação. Não que fosse um homem ruim, que precisasse de reabilitação. Ao contrário, tinha a mania irritante de ser bom e honesto, seu coração era visivelmente puro e dotado de boas intenções.
- Se queres subir na vida, precisa de um título. Apenas um título, qual seja ele. Será-lhe suficiente para arranjar algum cargo público, ou em alguma repartição burocrática nacionalista.Depois disso, é tudo ascensão. O que queres?
- Quero pensar para trabalhar, e não ao contrário. É possível?
- Veja. Fica mais fácil trabalhar para os papeis. Veja, o Estado tem muitos papeis nas suas salas, e isso é maravilhoso. Além disso, o Estado...o Estado somos nós- como se pudesse bradar na voz de Luis XV o l'État c'est moi.- Ora, trabalhar para os outros é loucura. Lisonjeios falam mais baixo que o próprio resultado, então terás que trabalhar de fato.

Albuquerque foi pensar. Matriculou-se no Liceu daquela terra, e seja em qualquer área da ciência propedêutica, teve a impressão de encontrar seu lugar finalmente. Seu mestre, Maximiliano, lhe adotou com certa compreensão pela sua história sofrida. Tinha algum sentimento desconhecido por aquele ser, sabendo que ele de fato não era normal. Ainda tinha dúvidas se era patologia ou dislexia, porém mantinha para si aquela opinião. Não suficiente suportar a situação por muito tempo, chamou Albuquerque no canto no final de um curso :
- É deveras diferente. Faz mais do que os outros, tem uma mania insistente de contestar aquilo que os livros próprios dizem. São eles a eterna fonte da sabedoria, não há um grão que poderás fazer para mudar teorias de toda a história.
- Prejudico-lhe?
- Não, mas poderás sofrer. Possivelmente sofrerás. Provavelmente sofrerás. Pensais por contra própria, e isso é demasiadamente perigoso. Altera o bom senso das pessoas; tapas de luvas dóem mais do que de verdade.
Na terra dos carnavais, o Liceu era quase que uma seita. Dali saíam as grandes cabeças, já reguladas e moldadas para ocupar os grandes cargos burocráticos. Dali, saíam mais forte por causa da tortura. Diziam que vedar a vontade de gritar de dor potencializava o seu título, e poderia cada vez mais suportar mais e mais sem que lhes incomodasse as opiniões injustas. Treinavam ali seres biologicamente superiores, pois saíriam em escala evolutiva visivelmente superior ao resto das outras pessoas. Em ultimato, veio o Sr. Maximiliano e lhe disse:
- Terás que sair. Não lhe suportam por causas das dúvidas que geras.
-Já sabia Sr. Maximilano.
Neste meio tempo, abriu o livro que carregava consigo e não por acaso leu ao mestre:
- "Ser normal é talvez a coisa mais útil e conveniente com que podemos sonhar. Mas a noção de ser humano normal, tal como o conceito de adaptação, implica limitar-se a média. Ser normal é o ideal dos que não tem êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidade acima da média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar a sua cota parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral a não serem nada senão normais significa o leito de tortura: mortal e insuportavelmente tedioso, um inferno de esterilidade e desespero".
- Sugiro procurar uma Igreja. Ela lhe acertará algo que falha.Tenho um Padre conhecido na Igreja Três-quartos; chama-se Antenor.
E cansado das intervenções alheias, decidiu Albuquerque procurar sua própria sorte. Nunca havia tido muita simpatia pelo Clero da cidade, não gostava das declarações dos padres nas paróquias e da própria censura da sua família em não ser praticante da religião, identidade da família e tradição na história da família Albuquerque por tantos anos, seria ele também a quebrar esse rito mais uma vez. Chegando em casa, a mãe lhe abraçou e parabenizou-o pela decisão.
- Finalmente terás uma vida correta!
Chegando na Igreja, confessou ao Padre seu incômodo:
- Sou correto demais, justo demais, honesto demais.
- É problema na tua essência; está desregulada. Acontece de ora em ora no momento da concepção, dizem ser um problema de fábrica. Talvez seja imprevisão nas peças do livre-arbítrio.
Albuquerque atalhou:
— E o senhor fica com o meu livre-arbítrio?
— Se o deixar.
Repousou-o dentro de uma caixa preta.
— Pois aqui o tem. Conserte-o. O diabo é que eu não posso andar sem ele, pelo menos para as decisões menos importantes.
— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe um de plástico.
— Funciona?
— É de plástico. explicou o honesto Padre. Albuquerque recebeu o chassi de sua essência, enfiou a de plástico, e saiu para a rua.
Dois meses depois, Albquerque tinha a simpatia da vizinha, tomava cerveja com o Chefe da Repartição, ganhava uma pequena fortuna fazendo duplicatas frias para os comerciantes do país ao lado. Sua mãe via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porém, veneravam-o, e os companheiros não tinham saudades em recordar o tempo em que Albuquerque era desregulado. De fato não pensava, apenas agia como os outros. Queria subir mais alto, e esqueceu a ideia de andar para frente. Explorava, adulava, falsificava, extorquia, corrompia, tergiversava. Sua mãe se orgulhava vendo seu filho com juízo. No centro proletariado, o seu reconhecimento crescia; era bajulado dos chefes burocratas, da frota proletariada e dos irmãos bolcheviques da Rússia. Foi eleito representante por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — A sua subida era comparada ao de um foguete rumo à Lua. Esqueceu rapidamento do passado doloroso, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente. Largou a dúvida para o passado.
Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País dos Carnavais encontravam divergências para encontrar o nome do próximo representante, e que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Albuqueruqe era o mais bem quisto. Então ele passeava de carro pelas ruas movimentadas, quando rememorou da Igreja que havia deixado seu livre-arbítrio. Tinha pressa, pois precisava chegar ao local da votação com rapidez e agilidade. Acreditou que 5 minutos ali não lhe fariam mal. Entrou na Igreja, e procurou pelo Padre Antenor.
- Veja, deixei meu livre-arbítrio há tempos para reparo. Por infortúnio, olividei-me de buscá-la.
- Não prossiga. Tenho aguardado ansiosamente pelo Senhor. Como está o de plástico? Regula bem?
- Absurdamente bem. Minhas dúvidas passaram.
- Olha, os livre-arbítrios de plásticos não são de toda a matéria ruim. São de fato provisórios, mas me espanta ter se encaixado com tanta perfeição no local em que ocupava a anterior.
- Porque ponderas?
- Bem, posso lhe dizer que em anos de Ministério, jamais encontrei artefato tão perfeito. É a placa precisa do próprio Universo, tem o equilíbrio das vibrações. Enfim, é atemporal. Tens uma obra-prima, um masterpiece de Sarte. Quiça me arrisco a dizer que isso é obra do próprio Deus.
Albuquerque hesitou em recolocar o antigo depois das considerações do Padre.
-Embrulhe-o por favor.
-Não o coloca de volta?
- Não, por favor.
- Ora Albuquerque, adverto-lhe que este não é utensílio trivial e cotidiano. Deve ser usado com um Tuxedo para festa de gala, caso contrário inevitavelmente dará de fatona cara. Fará com que se torne um homem superior.
Mas Albuquerque não era tolo, havia aprendido a respeitar a ordem social e a harmonia do homem-médio.
- Acredita causar discórdia mesmo se como objeto de decoração? Há chances de que fatalmente um dia ele me prejudique?
- Possivelmente. Ela fatalmente voltará a brigar com a sua consciência. Porque não tenta?
- Prefiro não arriscar. Prefiro ficar com a opinião dos outros, aquele que dizia que ele não servia. Livre-arbítrios devem estar em consonância com o clima e com as virtudes de cada povo, caso contrário podem fazer mal aos outros como eu mesmo fiz. Da nota que me deram em buscar sair da normalidade, conheci o homem-médio que sou, e para mim,convém-me manter assim.
-Leve-o consigo - mudando de ideia.
E assim, começou e terminou a história de Albuquerque, o homem que não conseguiu ser nada nem com nem sem o melhor do artefato já disponibilizado por Deus na terra dos Carnavais.

domingo, 28 de março de 2010

Nem Freud explica


Talvez não tenha sido bem interpretado no último post quando disse que temos um senso de justiça enlatado, mas explico: foi de certa maneira uma reação sobre à situação que todos os meios de comunicação divulgaram esta semana de forma uníssona e sempre muito bem decidida: o júri popular do milênio da história do Brasil do Estado de São Paulo. O resumo da ópera é que parece-me muito importante à mídia ter dado um foco milagrosamente transparente ao caso de "injustiça e impunidade"( palavras deles) como este, para nos dar a sensação de compensação de todos os outros casos de igual injustiça e impunidade ( palavras minhas) que são omitidos diariamente.
Sem dúvida vivemos no País da contradição. Casos como este, acreditem, ocorrem todos os dias no Brasil inteiro e ninguém se importa. Mas me pergunto: não deveria a mídia ( leia-se quase todos os veículos de informação) dar um pouco mais de atenção aos casos que realmente comovem qualquer pessoa com um sentimento de real indignação e desrespeito? Digo dos casos de corrupção não julgados, do corporativismo parlamentar tão mais nocivo à sociedade. Porque não existe tanto empenho em resolver aos mistérios dos atos secretos e porque nestes casos de conluio das CPI's, a perícia nunca consegue dar um laudo conclusivo a favor do interesse maior da nossa sociedade?
Quando menciono que temos um senso de justiça enlatado é exatamente por que incrivelmente, vivemos num país onde a informação, que a deveria de ser, às vezes mais parece ser uma repartição de imprensa do DOPS. Dou o nome disse de alienação. Se existe alienação é por que existe o alienado, ou aquele que não tem educação nem conhecimento para discernir o seu próprio julgamento. Se a corrupção existe, da mais simples à mais sofisticada, é porque a nossa sociedade ainda não absorveu determinados valores que são inerentes ao seu crescimento como civilização, advindos em sua grande maioria pela educação das crianças. Existe crime maior do que este? Sim.
Se existe a fronteira entre opressão e liberdade, deve-se muito ao livre-pensamento, e o exercício da livre informação praticado em muito pelos meios de comunicaçao. Pois bem, pouco me importa quem é o culpado da morte. Deixo isso para eles e para o travesseiro deles. Mas os infanticídios que são cometidos diariamente por não existir escolas suficientes para instruí-las ou quando falta merenda na escola com os impostos que eu e você pagamos pois as verbas foram desviadas, aí sim, isto torna-se um problema meu também. Aí sim, a promotoria deverá encher a boca para condenar antes de julgar e você também, deverá tomar partido com os cartazes gritando por justiça de fora do Plenário.
Quem acabou de ser condenado fomos todos nós, com um belo exemplar da alienação da nossa bipolar Imprensa Brasileira.

terça-feira, 23 de março de 2010

Indas e vindas da epopeia grega


Me perguntaram o porquê de ter um blog e não escrever sobre temas jurídicos. Pois bem, vamos lá:
Em uma discussão num programa de TV sobre as ações afirmativas e sua eficácia, foi abordado como de praxe o aspecto jurídico em contrapartida ao pragmatismo sociológico. São conceitos estes inabreviáveis, portanto me perdoeem a prolixidade. A questão era saber o limite da "legalidade" nas questões que são iminentemente sociais. Explico: criar condições para favorecer aos desfavorecidos, conceito de Ruy Barbosa, é de certo modo uma situação que cria um alto grau de insegurança jurídica, pois permite a abertura de exceções para determinadas naturezas de conflitos. O exemplo é facilmente compreensível se levarmos em conta a Lei Maria da Penha, dos direitos indígenas, dos direitos dos negros etc etc etc. A discussão é infinita e os debates, recorrentes. No entanto me chamou a atenção de uma mestranda em Ciências Sociais pela USP, que suscitou a possibilidade de olhar por um outro prisma. Partindo do pressusposto que deve-se defender os princípios constitucionais acima de tudo, neste caso, as ações afirmativas ferem o da igualdade e da isonomia. O conceito por si só é auto-explicativo. Mas a tal Mestre deu um banho, na minha opinião, em todos os outros mestres em Direito Constitucional. O princípio da Legalidade tem carregado na sua essência a legislação; mas não desobriga o legislador a não se ater às questões de cunho social que precisam ser debatidas, e não simplesmente remendadas e varridas para debaixo do tapete. Apesar de toda a evolução, ainda é pouco. Em país em que se leva na literalidade a ideia de Justiça, da imparcialidade da Deusa Têmis, tem-se um árduo caminho para se percorrer até chegar na evolução da "inclusão dos outros", de Habermas. O que ela quis dizer é que o próprio princípio da isonomia cria um ambiente um pouco controverso para as discussões de cunho social. Para se discutir, é preciso pedir com licença à Constituição, caso contrário o STF te faz ajoelhar no milho e pedir perdão.
Bom, a questão é que a própria história, mesmo que em forma de epopeia, já denunciava isto. Temis, a Deusa da Justiça,teve uma filha chamada Dike. Dizem que as gerações futuras são a evolução das anteriores: nasceu de pé descalços, com uma espada empunhada e a balança na outra mão. Mas o melhor é que nasceu sem as vendas. Ao contrário de sua mãe, não queria ser cega. Tá certo, fazia questão de ver tudo.
Talvez seja um pouco disso também para a interpretação de todas as coisas que tocam o nosso enlatado senso de justiça, ética e moral. E como a própria tal da Dike já dizia no passado, é possível fazer 3 coisas ao mesmo tempo: lutar com a espada, pesar com a justiça, e principalmente, olhar para o injusto sem as vendas de Temis.

sábado, 20 de março de 2010

Viciados em filmes


Imagine se você pudesse escolher a fotografia da sua vida. Não digo da sua imagem preferida, mas da forma como sua vida é fotografada. O ajuste de luz, o recuo, o zoom, o flash...enfim, o que você fotografaria?
Bom, tenho a opinião de que nossos olhos são pura fotografia. Posso comprovar isso pelos momentos que marcam na nossa memória, normalmente por serem coisas fortes que chamam atenção pelo simples fato de serem diferente daquilo que estamos acostumados a ver. Mas e todas as outras coisas? E todos os outros momentos que não temos fôlego para fotografar, porque não sei, estamos com pressa ou simplesmente muito viciados para não reparar em algo comum?
Conheço um gênio, e ele consegue enxergar exatamente o que o homem-médio tem aversão: as coisas banais. Melhor do que enxergar, ele fotografa na memória e ainda conta. Essa sagacidade é algo ímpar, que prende a atenção no momento de ouvir uma história. Consegue achar beleza na comunhão dos lixeiros em plena aurora sonolenta, e isso fica registrado como algo deveras importante. Talvez seja um pouco temeroso o fato de que não reconheçamos que temos na nossa memória apenas imagens que são importantes para nós. Certamente poderíamos ser mais generosos com a fotografia alheia e aprender um pouco mais com o universo que nos cerca. Penso no exemplo da águia: é um ser que se aproxima dos céus, e tem visão tão aguçada que pode não somente enxergar mais longe como com mais detalhes como nem um outro alguém. Daí me pergunto: se creio enxergar tão bem com minha visão saudável, como poderia ser enxergar ainda com mais detalhes por exemplo, à uma árvore, que para mim parece perfeita, cheia de cores e detalhes? Se pudesse enxergar mais a fundo do que teoricamente posso, esta árvore deixaria de ser uma árvore?
Fotografia não exige técnica, e sim disposição. É preciso dar um pause na câmera de filmar diária e saborear um pouco do diafragma mais perfeito que o homem já pôde criar: nossos próprios olhos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

É fácil se perder com as coisas novas. Você não as conhece, nem elas conhecem você. Com o tempo se acostuma, e o novo, pouco a pouco, dá o tom de liberadade plena.
Mais fácil ainda é se acomodar com o velho, antes mesmo de que se perceba que o velho na verdade, é realmente o puro comodismo.
Mas o oposto também acontece. Com essa liberdade, as coisas mudam novamente. Aprende-se a viver mais para si sem que isso se pareça egoísmo. Não é fácil escolher viver desta maneira: renunciar às coisas velhas é um ritual por muitas vezes doloroso, mas que pode valer a pena.
A liberade dá uma chance única para aqueles que querem se redimir de sua história: faz com que ajam unicamente em função do que lhes faz feliz. Faz com que conjuguem menos o nós em função dos outros, faz com que percebam que a força individual pode levá-los para onde quiserem ir.
Descobrir que dentro de si, existe uma força que não se imaginava ter. Que sua capacidade vai além do que se pensa poder fazer. Percebe que a vida é muito mais do que a soma do passado com o futuro e que o que realmente faz a grande diferença é o momento que se chama agora. E quer saber, definitivamente o paraíso mora dentro daqueles que são livres.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Deus existe? Dois ensaios sobre cosmologia.




"Se Deus não existe, então tudo é permitido"




Já dizia Ivan.
Talvez para os mais descrentes, o início de tudo começa no momento da escolha. Mas e antes da escolha, quem a fez por nós? Se somos produto de algo anterior, aonde afinal é o começo?
Este raciocínio serve para ilustrar a nossa inconstância diante do universo e, que invariavelmente, nos coage a crer em algo superior à nossa possibilidade de escolha de viver. Pode-se escolher morrer, mas jamais se poderá escolher nascer.
Nesta esfera, vislumbro as possibilidades de compreensão da origem do cosmos, e dos seres do cosmos que somos nós. Em primeiro lugar, fazemos parte do cosmos. Em segundo lugar, pulsamos juntamente com ele. Por isso, importante ter ciência de que ninguém nos cria nesta vida, e sim que somos produto de uma origem anterior, datada do início do universo. A energia que nos criou pode ser caracteriza como Divina, pois incita a Supremidade da criação. Religião nenhuma cria nem destrói nenhum ser, deixai-vos cientes disto.
Somos então impulso das vidas anteriores, materializados em seres que falam e compreendem neste plano que chama-se vida humana- no entanto esta vida aqui não está sozinha, nem será a última das nossas passagens.
É aí que entra a cosmologia orgânica: ela vai tentar explicar a lógica da evolução humana, através do empirismo científico: para se ter uma ideia, a imagem mais detalhada do tecido terrestre se assemelha na forma com a imagem mais detalhada do tecido do universo: elétrons e constelações têm a mesma forma elíptica e, acredite, isto não é mero acaso. A cosmologia serve como o respaldo para fundamentar as teorias newtonianas e da infungibilidade da matéria: nada se perde, nem se cria: tudo se transforma. O universo não comporta vacilos. Assim como nós, que fomos algo anterior, somos hoje algo atualmente em evolução, em direção todos a um único destino: a posteridade.
Para o outro lado da moeda, mas não paradoxal, o espiritualismo se envolve com a alma como forma de demonstrar que somos eternos produtos de nós mesmos. Mas o que isso afinal quer dizer?
Crer em acaso para a cosmologia é como crer na imperfeição do universo, porém o universo é único e perfeito, mesmo que para a nossa compreensão atual isso pareça equivocada. Cada qual tem seu liame de evolução, e a vida atual é apenas o instrumento que nos fora disponibilizado para que passemos para o próximo plano, de maneira mais edificada e virtuosa. Viver de forma edificante é simples e exige receita única: seguir o propósito. Propósito este, que poderá ser comumente equivocado com destino, porém este não abriga um mero detalhe chamado poder de escolha ( Liberdade + livre arbítrio )
Mas um alerta: é importante não se desvencilhar do conceito de heresia, daquele que preceitua oriundo do grego opção. Cada um tem sua escolha, e inevitavelmente, carregaremo-as juntamente com nossas renúncias para "o outro lado de lá".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Cuidado: não vão te deixar dormir.


Eis uma denúncia terrível e que vai causar impacto na mídia internacional: não vão te deixar dormir. Após uma investida maciça na psicologia humana para que nós mesmos nos condenemos dos nossos pecados, acabaram de inventar um veneno invisível, algo ainda pior do que a bomba do Hussein. Se nos sentamos para esperar uma consulta, o telefone com televisão está ali para lhe entreter. A comida deve cozinhar antes mesmo de ficar pronta, para que o cliente não perca tempo dialogando sobre coisas fúteis do dia-dia. Almoço é hora sagrada- e serve para se fazer aquilo que não temos tempo nos outros horários.
A televisão tem uma logística interessante: a sequencia de quadros é tão poderosa que faz com que nós, que estamos ali sentados, fiquemos hipnotizados pelas cores e pelo movimento da velocidade da substituição dos takes. Parece que a pessoa quer fazer outra coisa, mas não consegue. Outra novidade: experimente apenas ouvir a televisão. A fala é feita para prender nossa concentração não na mensagem, mas na sonoridade.
Quem vive nesse mundo louco, raramente sentirá uma palavra chamada tédio. Pode ser que impaciência conviva diretamente conosco, mas tédio, jamais. Tédio incita o ócio, e ninguém quer parecer ocioso. O ócio é feio, e mais do que o próprio tédio, lembra de algo mal quisto e mal visto pela nossa sociedade: a vagabundagem. Em linhas gerais, chegamos ao ponto em que não precisamos mais de vigias para censurar nossos atos: somos atualmente nossas maiores câmeras de segurança, vivendo eternamente nos liames da boa vizinhança e eternamente no sentimento da satisfação alheia. Essa tarefa por mais absurda que pareça, é de alta comprovação empírica. Nossos celulares abrigam o microcosmo da vida urbana, para que não nos esqueçamos nem no momento da inércia absoluta que somos seres flexíveis , e que sim, podemos não poder ficar parados à deriva se quisermos- e eu hei de querer. A boa nova é que a própria fotografia já denunciou a tragédia anunciada: da mesma maneira que câmeras são desenvolvidas para captar mais frames por segundo a cada dia, a memória não será mais suficiente para a quantidade de informação presente em cada quadro quando exaurir a sua capacidade, pois em um segundo só caberá algo que a visão e o próprio tempo permitir. Falando na língua humana, teremos em breve seres que retardarão no tempo dos frames por segundo, por puro e simples excesso de informação, se tornando os mais novos obsoletos produtos do mercado.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Nem todo texto tem título



Todo mundo tem um pouco do carnaval. Mesmo quem não gosta, acaba cedendo ao feriado para reavaliar e contribuir de um jeito ou de outro para a tese de que para brasileiro, o ano só começa depois da folia. E há quem custe a acreditar que o feriado é motivo cristão para dar adeus à carne. Esta última é a que me chama a atenção, mas mesmo assim nada me tira da cabeça que o carnaval é o grande divisor de águas da vida civil do brasileiro.
Talvez seja mais objeto de análise antropológica do que crendice cultural, mas é fato entender que cada um tem seu carnaval dentro de si, que brota da explosão das atitudes, da ilimitação da criatividade. Do eterno pique para o próximo dia. Todo mundo faz em algum momento apenas aquilo que tem vontade. Quem tem vontade de dormir, dorme. Quem bebe até encher a cara, faz com o maior prazer e sem medo da represália da ressaca do dia seguinte. As mulheres perdem o pudor virtual que sustentam o ano inteiro e acompanham os homens na orgia, sem medo do rótulo dos fiéis chatos que insistem em acreditar em amor recíproco ou até mesmo no casamento. Namoro? Palavra proibida nestes 5 dias. E ai de quem trazer o namorado para a viagem dos solteiros, vai ouvir os motivos de inveja ou simplesmente pedir para sair sustentando a justificativa num belo argumento de que "prefirimos algo mais tranquilo". No mais, as danças se revigoram a cada minuto, num movimento que mais parece uma constante competição de quem libera mais endorfina por segundo e produz risadas e comoção alheia do rídiculo por aquela dancinha que você julgou tão performática naquele momento de embriaguez. No entanto, todo mundo se diverte.

Mas depois, como uma reação à sensação de dever cumprido e do pensamento de que a partir de agora, a folia acabou e a vida de verdade TEM que começar, queira o carnaval ou não, cada um recomeça do seu começo. E o recomeço normalmente não se assemelha em nada com aqueles momentos de êxtase permamente característico do carnaval. Como em um grande movimento do desapego, todos se reúnem em volta da trivialidade novamente, de volta à velha vida já conhecida.
Finais e começos têm a mesma matriz: servem ora para conhecer o novo, ora para conhecer outro novo deixando o velho para trás. A quarta-feira de cinzas denuncia: é momento de deixar para trás a ressaca. E há ainda quem diga que dentro de si não mora um eterno carnaval.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

E viva o preconceito semântico


Sempre me pergunto sobre a validade do pitaco que as pessoas dão àqueles que cometem erros ao falar o portugês. Falo do "menas" muitas vezes dito a Deus dará sem nenhum compromisso com a forma correta do advérbio e que de sinceramente, não faz nenhuma diferença na hora de entender o que a pessoa está querendo dizer, ou do "ponhar" erroneamente conjugado, muitas vezes criado pela costume senhoril mesmo de se falar errado, chegando ainda ao ponto de enteder o porquê de que "vosmicê" não é na verdade uma indicação caipira para se dirigir a alguem, muito menos errada. Você compreende menos quando uma pessoa diz "adevogado" de "advogado"?
Afinal, o que é falar errado?
Consigo enxergar algumas formas de responder à esta pergunta, mas nenhuma delas se aproxima da real intenção de dizer algo e conseguir falar com bom-sucesso, mesmo que com inúmeros erros. Como é bom quando a gente consegue entender o que a outra pessoa está tentando dizer. E como é desagradável discutir, às vezes infinitamente, para se chegar àquela frase clássica: -"ahhhhhh, agora eu te entendi". '
Mas afinal, o que houve de errado nesse meio tempo?
Visto do ponto que o papel da escola seja de também formar cidadãos que consigam exprimir sua língua materna através da boa escrita e da boa fala , e não é em vão que a nossa língua tenha tantas convenções para que as pessoas possam falar corretamente, por outro lado, como tudo nessa vida tem as suas intempéries, e não é diferente conosco, neste caso elas estão no calço da gramática do próprio gajo lusitano; a primeira delas, é o valor da língua falada. Essa língua que circula por aí, e que fala errado deliberadamente ,é a que transmite a intenção da opinião das pessoas e da essência da interpretação. Por muito tempo fui acostumado a corrigir, mas hoje deposito a minha atenção apenas em tentar entender o que a outra pessoa quer dizer, com suas falhas ou não. A riqueza da interpretação está na forma, nos gestos, no tom, nas analogias, na intenção. Dá-se ao nome da dicotomia falar certo x errado de preconceito linguistico, e que como todo preconceito piramidal e segregado, se torna autoritário pois aplica a regra à norma totalmente informal e que não exige do indivíduo total compreensão dos valores, neste caso linguisticos, por uma razão muito especial: falta de acesso ao tesouro da norma gramatical.
Mas o que dizer então das pessoas que falam, e não conseguem simplesmente dizer ou se fazer entender? Neste caso, o preconceito migra da falta do conhecimento técnico que origina a forma falada formal, para o mais puro déficit de compreensão e de cognição do indivíduo em interpretar as situações que se passam com ele mesmo e traduzir isso em palavras. Simples, não?
Me interessa mais em saber a intenção da pessoa em falar algo do que propriamente as palavras que ela utiliza para dizer algo que poderia ser dito se falado com o coração.
Sem dúvida nenhuma, parte dos problemas do mundo reside no fato das pessoas literalmente não se entenderem quando um fala ao outro.
Quantos casamentos poderiam ser salvos? Quantas brigas evitadas? Quantas demissões...ou melhor, quantas não- admissões poderiam ser finalmente concretizadas se um entendesse ao outro? Sem vícios, nem aforismos. Figuras de linguagem estariam proibidas por este instante. Metáfora seria crime. Indo mais longe, o ser humano que exterioriza de forma limpa aquilo que quer dizer, entende melhor a si mesmo também. Não é uma teoria evolucionista, mas com certeza já é certo há séculos que o que nos diferencia das outras coisas terrenas é o fato de conseguirmos nos comunicar por palavras. Ou seja, o ser humano que conseguir expressar de melhor forma a sua intenção, se aproximará da sua condição humana consequentemente. E vice-versa. Neste caso, com o perdão da palavra, dane-se o preconceito linguistico e viva o preconceito semântico.
Ainda, ontem assiti o paredão do big brother e o eliminado na sua defesa, simplesmente não conseguiu se expressar. No momento após a eliminação, surpresa, novamente não conseguiu dizer aquilo que queria dizer, e acabou por se contradizer. Mas um detalhe me chamou atenção: havia sido condenado por dizer que tinha sentido pela primeira vez a vontade de ler um livro, mas negou que aquela opinião fosse dele, pois era um leitor assíduo.
Ler não está relacionado a um conceito, nem é motivo de status ou de intelectualidade. Cada um que lê, tem seu motivo. Alguns gostam de viajar, outros veem como uma fonte eterna de conhecimento. Outros, como uma forma de compreensão alheia sobre coisas distintas e de fato, o escritor proporciona isto ao leitor: a possibilidade de entrar na sua compreensão de mundo, e utilizar das suas palavras para ler uma experiência, uma sensação ou uma mera vicissitude. Seja qual for a sua ideia, os livros são grandes fontes libertárias para aqueles que leem e, mesmo sem saber, se distanciam do velho preconceito linguistico e migram quase que incoscientemente para o semântico, e que sem dúvida nenhuma, se torna mais saboroso e, independe de classe, acesso ou educação da gramática do falar-sempre-corretamente.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Zeitgeist e demais Projetos Vênus


Não é minha função, um linguista faria o trabalho melhor, em tentar traduzir a palavra “zeitgeist” para o português, principalmente porque já se tornou mais do que uma expressão idiomática e sim um conceito abrangente de práticas que envolvem diversas áreas do pensamento humano. A partir deste momento, abdico das aspas para me relacionar à ela, tampouco vou usar o itálico e agora vou explicar o por quê. Zeitgeist significa o espírito, o core saxão, a essência do pensamento que direciona o homem a atingir sua evolução máxima no plano de vida. Se você quiser, faça o trabalho de procurar o significado no Google e vai entender um pouco mais a etimologia. Mas o ponto que eu quero chegar é que nesse meio todo, existe um filme também chamado Zeitgeist, e não à toa, que tenta transmitir um pouco da razão dessa essência que envolve as coisas e as ideias que circundam esse mundão; assisti o filme depois de um amigo me indicar e posso dizer que não me arrependi. Não pelo fato de ser um filme independente, sem função comercial, mas pela razão de conseguir compilar em formato de documentário narrado , informações que são discutidas em círculos normalmente paralelos sem existir aquela atrito que é clássico e polêmico entre religião, política e razão. Aos cristãos mais fervorosos aparentemente parecerá mais uma insurgida dos “agnósticos” ou dos ateus, mas é interessante tentar sentir qual é o real zeitgeist do filme, que milagrosamente consegue colocar em ordem cronológica as verdades que foram impostas no decorrer da história da humanidade, como por exemplo a da parábola de Jesus Cristo, a da criação do Capitalismo e a derrocada do Imperialismo americano.
A parábola de Jesus Cristo é uma dessas histórias interessantes que nos contam sem saber que podemos acreditar piamente nelas sem ao menos pensar se devemos acreditar ou não. O pensamento da “era de ouro”, ainda outra escola de pensamento, incita a mesma lógica de que as religiões são todas derivadas da prima-base da crença mitológica egípcia em que o primeiro e único-absoluto Deus, é Horus. Todas as criações de pseudônimos deste Deus poderão ser encontradas nas religiões que se utilizam da mesma história, das mesmas características e principalmente, da mesma analogia do conhecimento do universo através dos zodíacos como forma de marcar a história do poder e da imersão sobre a humanidade. Ou seja, cristianismo, hinduísmo, islamismo, judaísmo etc, são derivadas do mesmo berço espiritual, que é a relação próxima com Hórus pela transmissão de conhecimentos e do simbolismo que caracteriza a crença no Zodíaco de Dendera como o ciclo do Mundo e de todas as coisas que estão nele, principalmente nós. Apesar da herança aparente destas coincidências, a fé continua sendo a principal razão da “religação”do homem com o Universo, portanto a religião é a relação bilateral do homem com seu Deus, que está presente no Universo. A pergunta que surge é, porque então que entre nós existe este terceiro interlocutor chamado religião? Se a crença maior reside na relação espiritual entre o homem e sua fé, que pode ser qualquer outra coisa inteligível e que seja maior do que a própria compreensão do Universo, qual seria o papel deste subsidiário criado pelas próprias mãos do homem que nela confia, que se chama Cristianismo ,travestido de Religião, que na verdade é a religação( religare= religião) com Deus que representa o Universo? Ufa. Zeitgeist consegue planificar a história da humanidade os momentos que condicionaram a organização social que persiste até hoje, com base em crenças artificiais, copiadas das civilizações que de fato estreitaram os laços com a compreensão suprema do movimento do Universo e deteram o conhecimento do real espírito da evolução e dos planos das vidas, aplicando-as em determinado momento histórico como forma de divisão de eras que na realidade nunca existiram. A história é uma só, e antes ou depois de Cristo, quais sejam os eventos históricos que determinaram a mudança da humanidade, ela continua a mesma. A única diferença é que neste pequeno intervalo um detalhe mudou a história do mundo. Mesmo sendo minimalista assim e até mesmo parecer superficial em determinados momentos, Zeitgeist tenta de forma mais prática, fazer aquilo que o Espiritualismo e o Monismo têm tentado há tempos: demonstrar que o homem é único no Universo, e sua evolução nele depende diretamente no sucesso da harmonia que ele alcançará nas “eras” que circundam- o. O ser humano é a representação da miniatura do universo e se relaciona diretamente com seu criador máximo, portanto a religião moderna é um evento humano, e não espiritual.
Em outro momento do filme, Zeitgeist dá um grito para tentar denunciar a relação intensa entre passado e presente, e na função do materialismo histórico humano que determinou o momento do ciclo que vivemos. Tanto nas questões políticas como econômicas , o laço existente entre os primórdios da humanidade, falsamente margeada entre A.C e D.C, é o mesmo. A humanidade marcha através dos gritos dos grandes ditadores da história, e que reproduzem, século após século, réplica verossímel do que acontece desde a criação da religião. A leitura que o filme dá é pautada no pensamento determinista, que condiciona a história como fruto do cálculo de determinadas ações como forma de direcionar a atuação humana social em prol das ideologias políticas e econômicas, como por exemplo do mercantilismo para o capitalismo é finalmente ao imperialismo.
No entanto, reservo a última parte como forma de expressar a minha expectativa em difundir o movimento monista, da criação de uma sociedade alternativa que esteja pautada em outros valores, quebrando a trivialidade. Dado ao acúmulo de práticas que a humanidade tem passado nos últimos séculos, a destruição do relação entre homem- natureza, a alienação nas verdades ideológicas da política, da religião e do capitalismo, existe um movimento que nos pressiona à mudança: não necessariamente pela mudança da Era de Peixes para a de Aquários, que representará sim a sinalização da mudança para a nossa próxima etapa, mas pela conscientização do ser humano de que seu propósito depende unicamente dele. É chegado o momento do sistema reciclar e, para isso ocorrer, deverá primeiro ruir. A situação que vivemos atualmente urge mudanças, mas como a própria história demonstrou, somos eternos prisioneiros da política e do mercado. Para que essa mudança ocorra, o mercado deverá mudar. Mas o mercado somos nós, eis a lógica.
Chegamos no ápice da materialização do recurso natural e é fácil compreender: vivemos há décadas na era do ouro negro , o petróleo. Tudo no mundo gira em torno dele, e atualmente, nada é possível sem ele. Se não acredita, faça as contas e pense no produtor que não utiliza energia na produção de seu produto, por exemplo, uma hortaliça orgânica: mesmo utilizando-se apenas de fonte natural para plantá-la, a venda é feita a alguém, normalmente por uma pequena distribuidora, que busca suas mercadorias em caminhões, que usa do combustível para tanto. O fato é inegável, vamos encarar: o petróleo domina o mundo e se não é usado no começo, será usado no final do processo para alcançar seu fim. Devido à utilização deste componente, que demanda esforço humano e industrial elevados, o preço se agrega no produto final e o mercado gira em torno dele. No passado, para obter energia, procurávamos na terra a energia. Isso deve remanescer no passado. É fato notório que a humanidade já detém a tecnologia necessária para suprimir o uso do petróleo . Temos desenvolvido vacinas contra os mais poderosos vírus , a indústria aeronáutica tem feitos avanços juntamente com a nanotecnolgia, e o recente acelerador de partículas que nos permitem pensar claramente que a própria indústria automobilística já detém a tecnologia da energia de fontes sintéticas como a elétrica, quiçá obviamente dizer a do hidrogênio. O que necessitamos é a quebra do paradigma, a derrocada do velho modelo para aprimorar a ideia de uma sociedade pautada na sustentabilidade e na relação monista dos indivíduos, sem crenças ou ideologias impostas.
Aí eu pergunto: isso lhe lembra alguma coisa? Marx sem dúvida ficaria orgulhoso em saber que parte da humanidade tem pensado seriamente sobre isso. Mas não se engane. A ideia de sociedade sem fronteiras, ou o Projeto Vênus, não se relaciona em nenhum momento com a matriz filosófica do marxismo, tampouco com a quebra do mercado e da propriedade privada. A proposta é unicamente viável para a reformulação do modelo extremamente nocivo à própria existência humana, que condena à humanidade à sua própria sobrevivência sob o modelo perigoso pautado na relação deliberada do mercado com as fontes que o sustenta. O pressuposto que sustenta é esta questão é que o mercado não será extinto , e sim apenas reformulado para o modelo mais inteligente e viável. A relação capitalista , na acepção pura da palavra, continuará existindo pois como se sabe, a primeira lei do mercado é a oferta e da procura. Se houver oferecimento de tecnologia, poderemos reformular o modelo antigo. Basta o mercado perceber isto.

O movimento zeigeist pode ser encontrado na página abaixo e mais para frente escreverei mais sobre ele.

http://zday2010.org/index.php?option=com_content&view=article&id=47
http://www.thevenusproject.com/

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Resolução da semana

É um mistério para mim
Em saber porquê temos ganância com aquilo que não temos

E você acha que precisa querer mais do que precisa ter
E que até você ter isso não conseguirá ser livre

Quando você quer mais do que você tem
Você acha que precisa ter

E quando você pensa mais do que você precisa
Se considere preso, porque sua liberdade não existe mais

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Job Rotation com Adorno e cia.


Algum tempo atrás, li uma reportagem sobre as atividades mais lucrativas do mercado. Levei um susto ao saber que um jornalista de carreira em uma empresa de comunicação conhecida poderia ganhar até R$ 300.000,00 por mês. O meu susto não foi pelo valor em si, até mesmo porque esses jogadores de futebol de hoje em dia ganham milhões por mês. A diferença é que os jogadores movimentam o mercado, e o salário acaba sendo uma imposição virtual do próprio mercado sobre os lucros que eles geram. Propagandas, marketing, royalties, compras e vendas são algumas das razões que me fazem a aceitar estes valores. Nenhum jogador vale de fato o salário que ganha, é só perguntar para um fanático em futebol que tenha dinheiro se estaria disposto a comprá-lo para colocar na mesa de centro da sua casa ou de desfilar em alguma avenida de Paris. Diferente da arte, a lei do mercado é muito mais dinâmica. Tá, mas um jornalista? Não pela posição nem pelo mérito, que me perdoem os jornalistas. Mas é que me custa entender o porquê da influência de um ser humano sobre tantos outros. Outra vez ouvi: “bem vindo ao mundo corporativo”. Mas que mundo é esse? Ainda me dói, e confesso que estou em fase de adaptação neste "mundo", em saber que o reconhecimento de uma pessoa está na influência que ela exerce sobre as outras e não exatamente pelo que ela desenvolve no trabalho dela. Um desses sensacionalistas da vida aí, do tipo Arnaldo Jabor , deve receber rios de dinheiro por mês simplesmente para dar sua opinião tendo certeza que a influência que ela exercerá em tantas outras pessoas no meio social é o que pagará seu salário no final do mês. Nada contra Arnaldo Jabor, e tampouco que isso não seja uma coisa válida. Mas voltando ao que estava falando, fiz uma analogia do caso dele com o mundo chamado corporativo e mais uma vez confesso que doeu. Afinal, a competitividade hoje gira exatamente em torno disso, em ser influência para os outros. E o pior é que as pessoas se curvam e pagam pela presença dos gurus em suas vidas, apenas para que dizer que fazer e o que não fazer, como se vestir e se comportar diante de uma reunião importante. Mas será que esta influência é importante? Será que saber apenas citar Pareto ou Schopenhauer é realmente necessário para a composição do "briefcase" da empresa? Eu sim sou da opinião que ao citá-los temos que já ir pedindo desculpas e ajoelhar no milho para pedir perdão.
Bom, se doeu em mim, imagino como seria em Adorno. Aquela laguidibá de dialética negativa que ele escreveu no século passado com toda a certeza não passaria nos testes vocacionais das grandes multinacionais. Rio sozinho em imaginar como seria Dostoievski ao comparecer em uma entrevista, e ter que mentir que seu maior defeito é a sinceridade: hahaha.
Com certeza ele seria outro que amargaria a resposta de que “você tem ótimas aptidões, mas a empresa procura outro perfil mais voltado para a competitividade do mercado corporativo”. Blasfêmia.
Por fim, é importante que não percamos o foco: cuidado com as palavras, e mais cuidado ainda com os gestos. Sua mania crônica de roer as unhas, explicada cientificamente pela associação genética do adulto ao se relacionar com seu alter-ego criança, será avaliada por horas a fio pelos profissionais que se especializaram em psicologia corporativa e hoje são bem-sucedidos gerentes de RH, para que no fim concluam que você na verdade, apresenta sinais de nervosismo e até mesmo TOC de roer unha e, que infelizmente não se encaixa naquele cargo tão disputado. Ah, sem dúvida já vivemos no mundo de George Orwell ,de 1984: nos filmam o dia inteiro, pelas nossas ações e pela nossa inércia. Julgam e nos separam com o mesmo critério que o pessoal lá da CEASA separa os tomates podres dos bons. Grande coisa. E você, também quer dar uma espiadinha?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Jack Eden?


Não fosse o toque sensível e pragmático do personagem, Martin Eden seria apenas mais um jovem que viveu a rodar o mundo através das viagens de baleeiros. Acabou por conhecer mais lugares que a própria condição financeira o permitiria. Em uma de suas andanças se apaixonou, conhecendo verdadeiramente o sentido do amor. Nos pormenores do sofrimento, descobriu que seu amor só poderia ser correspondido a partir do momento que se encaixasse no molde social e intelectual da amada, que o exigira evoluir como ser através dos estudos, do conhecimento e dos livros. Decidiu lutar por ela; estudou a fundo a estrutura do pensamento burguês da sociedade Americana do século XIX, e como isso fosse resolver seu problema, acabou por encontrar outro maior ainda. Ao passo que estudava, percebia que era mais ignorante do que antes.
Romance que retrata uma semi auto-biografia de Jack London, Martin Eden é um mini alter-ego do escritor que foi revolucionário do pensamento de sua época e reconhecido, como todo grande artista, apenas um século depois. As dúvidas que permeiam as questões de London são as mesmas discutidas em Martin Eden, e o romance serve como um espelho da sua própria história , reconhecidamente fracassada diante da sociedade que se vivia. Ambos utilizam-se do tempo de vida como forma de questionamento, aparentemente irresignado eternamente, porém sempre com belos ensaios daquilo que se “parece mas não é” e da eterna busca pela verdade das coisas. Martin Eden "auto-constrói” seu retrato no mesmo ritmo que segue sua linearidade pessoal: descobre primeiro a trivialidade, através do pensamento comumitário. Depois, descobre que aquilo é apenas uma parte do que se diz ser verdade e, por fim , porém previsivelmente, de forma trágica conclui que tudo o que se diz é mentira e que a única verdade reside no amor incondicional. Ao passo que estuda o academicismo, a filosofia, a economia e a psicologia , entende a lógica que sustenta o sistema capitalista universal, tecendo seu próprio caminho alternativo de pensamento à lógica imposta pelas pessoas que vivem nele.
No entanto, não acredito que o mais prazeroso esteja nos ensaios sobre a divisão do trabalho social, da máquina capitalista, ou da relação entre força produtiva e intelectual e da forma como elas impactuam no desenvolvimento humano dos indivíduos- tampouco sobre o socialismo da época. O grande mistério de Martin Eden está no seu diálogo invisível com Nietzsche acerca das questões realmente relevantes para o homem atingir sua felicidade e de sua revanche pessoal com os preceitos da psicologia humana. Ao entender a lógica social entende por si só o seu inconformismo em satisfazer aos padrões sociais em prol da etiqueta de “cidadão-comum”. A sociedade o exigia isso; queriam que fosse uma pessoa comum e que seguisse a cronologia virtual das coisas: estudar para trabalhar; trabalhar para casar e casar para ser feliz. No entanto, descobre que a sociedade que o exigia isso, era na verdade, escrava do conhecimento que ela mesmo pregava e que aquilo que acreditavam saber, na realidade era apenas produto da opressão burguesa em limitá-los a seres eternamente situados na mesóclise da ignorância e da sabedoria. Estudavam em demasiado para seguir a mesma cronologia, e o resultado disso seria o eterno circulo vicioso, que impossibilitaria aos seres de pensar de forma independente e autêntica.

Ao descobrir o verdadeiro amor, acaba por descobrir também que este esteve condicionado ao seu sucesso como ser social daquela sociedade, tendo uma vida trivial dentro dos moldes exigidos pela época.
O clímax do romance acontece durante o mergulho interno que Eden faz no período que desenvolve sua habilidade para filosofar em forma de poesia. Descobre sua capacidade de enxergar além do que os livros lhe diziam e principalmente de constatar os vícios que corroem o ser humano puro que vive numa sociedade podre. Ao mesmo tempo que era reconhecido como escritor, seu amor se esvaiu pela amada e ela retornou depois de concluir que ele já se encaixava como futuro esposo, devido à sua posição social e seu status financeiro. Se fosse transcrever em aforismos o sentimento de Eden, poderia dizer que pensara principalmente nas questões torpes da consciência humana, e principalmente em que o amor que sentia por ela não mudou depois que enriquecera, diferentemente dela. Ela o abandonara quando decidira continuar com seu propósito, independentemente do dinheiro. Quando retorna arrependida, a parábola que se constrói no monólogo é da dúvida sobre sua própria mudança: tivera em algum momento o amor sentido por ela mudado por causa do dinheiro? Mas ele continuava exatamente o mesmo, antes e depois do sucesso.

Acredita na incondicionalidade do amor como única forma de evolução e revolução. Os seres são egoístas e alienados, porém quando descobrem o poder de isenção dos valores externos, alcançam a sua a real intenção da existência:

Do que seria da tua beleza, se eu fechasse os meus olhos para você?
Do que adiantaria essa tua ideologia, se tua própria liberdade se transformasse em opressão?
E se eu pudesse ao menos te mostrar, que o inferno são os outros?


Não acredito que a intenção de Jack London fosse demonstrar uma das faces niilistas do seu personagem, que mergulha num lago profundo de rocha sem saber que lá não existe água, para depois chorar a desgraça humana. A construção que ocorre no decorrer do romance é exatamente a representação de uma das fases da vida de todo indivíduo , que livres , conseguem optar sem ressentir, ou não. Eminentemente presente, a questão do dúbio social e do niilismo como forma de execração e repúdio à forma imposta por um materialismo histórico inútil, que aprisiona ao invés de libertar, é atenuada por Martin Eden, que descobre sua vocação para o monismo: se considera um legítimo monista, pois procura aquilo que de fato lhe faz feliz, com a liberdade do conhecimento e pautado no livre-arbítrio do querer. O final do romance acaba sendo mero detalhe, pois a intenção da mensagem já fora passada muitas páginas antes.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Mas que preguiça de acordar

E quando você vê, já foi.
Já são onze horas, já é ano que vem.
Já foi aquilo que se achava que iria ser.
Já foi a ilusão, a ideologia, o idealismo. Já foi a perfeição.
Já foi a ideia de que o mundo gira.
Chegou a ideia de que o mundo gira. E a gente gira junto com ele.
Esperou quem tinha esperança, agiu quem teve liberdade.
E quando você vê, já foi. Aquela ideia que empolgava, mudou.
Sem sentir, ficou prisioneiro no sonho. E quando acordou, viu que tudo mudou.
Aturdido, questiona: - será que eu mudei também?
Sim, quando sonhava, mesmo sem sentir você vivia.
E que por viver, as escolhas não se escolheram sozinhas. Alguém fez por elas.Você fez por elas.
E quando você vê, já é. Alegria, em ver que o sonho mesmo não realizado ainda te fez suspirar.
E quando você acordou, pronto, o mundo ainda girava.
Mas tudo continuava a mesma coisa. Mas de alguma forma, diferente.
"Você mudou. Você saiu e entrou de volta"- ecoou o grito do presente.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Destino ou livre-arbítrio?



Um dos grandes mistérios que acompanham o ser humano desde o seu reconhecimento é o impasse livre- arbítrio x determinismo. Pode o ser humano escolher sua própria sorte, ou deve estar ele condicionado às forças externas, terrenas ou extra-terrenas para ser feliz?
Entendo que este assunto rende uma bom apanhando de todas as matérias cognitivas e humanísticas: a psicologia, filosofia, cosmologia, antroposofia, física, biologia, matemática, tem, inevitavelmente uma suposta resposta para esta pergunta, tanto é que já conseguiram formular brilhantes teorias que vão desde a teoria da causalidade à chamada "coincidência significativa", de Jung.
É impossível debater sem antes conhecer parte destas teorias, pois elas têm muito o que nos ofertar, e acredito que o caminho real para elucidar esta questão é simplesmente entender, no final das contas, a estrutura que rege o universo.
Sentimos no íntimo esta sensação de que é possível compreender além do que nossa percepção atual, de que realmente existe algo maior do que a própria realidade. Quantas pessoas não tiveram experiências sensoriais que simplesmente ignoraram as leis materiais de tempo, espaço, matéria, corpo e mente? Foram estas experiências reais, ou simplesmente uma reprodução virtual do que poderia acontecer? O tempo que transcorreu, existiu, ou ele de certa forma não pode ser contabilizado quando trata-se de um momento mágico que envolva o puro espírito? Afinal, o tempo existe?
Em primeiro lugar, precisamos frisar que nossos conceitos trivias são mentais, ou seja, criados pela percepção humana, e não espiritual. O conceito de determinismo diz que o universo conspira ao seu favor para realizar aquilo que esteja planejado para você. Entendo que as leis herméticas que falam sobre determinismo não conseguiram explicar na essência o que isso significa dizer, e por esta razão, brigamos eternamente, desde o início dos tempos, sobre a nossa liberdade de modificar um eventual destino. A era Iluminista destacou isto com ênfase: " Não há ser humano que possa sucumbir à uma boa escolha em detrimento de outra de outrem". Ou seja, a educação humanística prevê isto: se queremos ser felizes, devemos escolher entre uma coisa e outra, sempre.
Acredito que ambas visões estão certas e erradas ao mesmo tempo; somos únicos no universo, e o espírito nos mostra isto. Ou seja, de início, o universo através da troca de energia nos prevê algo muito bom, sempre. Basta agir para isto. As teorias mais clássicas desde o princípio souberam disto:
"Não adianta se querer algo diferente , se a posição se mantém igual à anterior"
Stephen Hawkings,
O universo pulsa constantemente. Pulsamos junto com ele, com a matéria e energia que envolve todo o cosmos, e precisamos saber disto através da consciência. A partir do momento que entendermos que somos exatamente aquilo que procuramos nas outras coisas, conseguiremos compreender que Deus está em nós, e só nós. Somos o puro espírito, e se pulsarmos junto com ele, o universo nos dará apenas aquilo que ele tem de melhor: o puro Vazio.
Determinismo e livre arbítrio foram banalizados pelo racionalismo humano: tentamos entender se temos escolha, enquanto somos a própria escolha. Tentamos entender se o tempo faz sentido, enquanto somos a eternidade.
Basta saber, que as teorias do "contra-tempo" têm se fortalecido neste último século exatamente por este motivo: as pessoas que têm pensado neste sentido compreenderam que o tempo é algo vazio, que se esvai no nosso conceito de civilização. Ou seja, seguimos a cronologia virtual das coisas pois acreditamos que ele nos substituirá pelo projeto da imortalidade. Puro conceito social.
Acredito que temos uma missão para compreensão: entender que estamos determinados sempre ao puro espírito, mas devemos nos posicionar para o universo nos encontrar. Nada é estável, tudo é mutante. Precisamos adquirir a consciência de que temos todo o potencial para evoluir, mas precisamos querer: isto se confundiu com livre-arbítrio. Este, é ao meu ver, o real livre arbítrio: querer.
Auto conhecimento é algo genial:




Cada um, que terá a liberdade de escolher qual verdade acreditará a partir de determinado momento decisivo. O desenvolvimento interno se funda no fato de cada qual buscar a sua própria sorte, com base em princípios que seguem a lógica universal do conhecimento; o desprendimento se inicia no momento que o indivíduo reconhece o seu potencial de escolha e aliado ao livre-arbítrio, busca no auto-conhecimento a sorte correta para escolher. Ao passo que cada qual desenvolve tal habilidade e reconhece o poder da ação humana sob o universo que está envolto a cada um , compreende-se concomitantemente que a evolução da liberdade está condicionada a cada qual seguir o seu propósito de vida, ou seja, existe uma condicionante, porém diferente da acepção de destino pré-determinado, em que toda a ação pautada na liberdade de escolha e no conhecimento do livre-arbítrio representará exatamente aquele propósito universal e ao mesmo tempo pessoal, em que as atitudes livres comandam o fluxo do universo ao ponto de cada qual atingir sua órbita interna de evolução. A existência da ideia de destino no entanto é subsidiária, e acompanha a crença em algo superior, não necessariamente teológica, mas que exclui de forma parcial o livre-arbítrio. A mensagem que o universo nos passa constantemente é que somos responsáveis pelo nosso propósito, porém mesmo a condição de “ dever ser” ou de predestinação , se fundamentadas com a liberdade de escolha e com o livre-arbítrio poderão ser perfeitamente aceitáveis. O paradigma está exatamente no reconhecimento e no auto-conhecimento destas regras universais; em primeiro lugar, conhecê-las para reconhecê-las como existentes; em segundo, aprendê-las, com base no auto-conhecimento, no desapego aos padrões impostos de pensamento e na crença em conceitos duradouros e herméticos, como a intuição e a intenção.
O ser humano é único no universo, o que não significa dizer que está sozinho. Cada indivíduo detém a incrível possibilidade de construir aquilo que quiser para si; a isto chama-se liberdade. E cada indivíduo detém a incrível capacidade de escolher aquilo que é melhor para si mesmo; a isto chama-se livre-arbítrio. Estas são verdades complementares e que jamais poderão andar separadas.
O conceito de destino que se transmutou na nossa civilização é óbvio: acreditamos na predestinação e no determinismo, mas agimos sob inércia.
A subsidiariedade da crença é algo presente em nós e produto da condição do indivíduo ser um ser social, no entanto a sabedoria reside em abdicar-se da crença em verdades terrenas em substituição à verdade universal do movimento cíclico das coisas, como forma de abandono da velha ideia de destino passível da inércia frente à concepção de predestinação. A evolução que o universo nos cobra está exatamente no desapego das coisas velhas, dos conceitos retrógrados e que aprisionam o ser às verdades alheias e que os distanciam da sua própria capacidade de agir em concordância com o universo.
A energia da mudança no entanto é sempre pulsante; a inatividade não gera movimento nem ação , tampouco reação.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Resolução da semana

Crescer reside no aprender
Consiste em admitir que somos parte da nossa própria evolução
Que nascemos não para subir mais alto, mas para andar mais para frente sempre
Entender que temos o espaço de uma vida inteira para evoluir
Que somos parte do universo e que a energia ao nosso redor faz parte de nós mesmos
Que o paraíso tem morada em cada indivíduo
Buscando dentro de nós o entendimento para compreender os momentos corretos para agir
Que cada um é o seu reflexo na natureza que nos envolve
Buscar o amor como uma maneira de se aproximar de Deus, qual seja o seu
Lembrando que amar faz bem principalmente a quem amar
Significa viver com singularidade, cada qual buscando a sua verdade com liberdade e livre arbítrio
Procurando sempre aquilo que de fato se precisa ter
Entendendo o tempo como instrumento para essa compassada evolução
E que por mais que se procure, só ele poderá nos encontrar
Envidando o esforço para se conhecer , para que se aprenda a primeiro amar a si próprio para depois a outrem
E que no fim, aprendemos apenas para crescer
Para entender que o final não é final, e sim o começo para a eterna eternidade

Sobre ser tupiniquim


Para inaugurar apenas:

O brasileiro se orgulha da sua diversidade cultural, das belezas naturais , da maneira como fala e como leva a vida. De fato algo impressionante em um lugar aonde as proporções continentais ao invés de afastar, aproximam de maneira intensa a maneira de se pensar, tornando o pensamento brasileiro uníssono e sincretista. Fala-se muito em pluralidade cultural, mas no âmago da questão , o brasileiro tem dentro de si a bússola racional muito similar que o orienta às coisas que ocorrem mutuamente em seu círculo social. Em tratando-se de razão, costumeiramente o brasileiro não consegue atacar o seu próprio ponto fraco, forjando às maneiras estrangeiras e modos de pensamento ancestrais dos nossos próprios colonizadores. Temos grande dificuldade em reinventar nosso presente, e nosso passado é constantemente aludido às replicas de pensamento das escolas mais tradicionais. Tome-se por exemplo a filosofia: no Brasil ainda tem-se a ideia de que Filosofia é ciência de se pensar e refletir, mencionada pomposamente os clássicos gregos e romanos como maneira de determinar a maneira de se viver e pensar. Nossos filósofos se aponderam dos pensamentos antigos para justificar a estrutura completamente egoísta existente nas nossas relações sociais e patrimoniais; chega-se a contradição de ter-se de admitir que a filosofia brasileira é feita no intervalo das discussões entre Congresso e Judiciário, haja visto que vivemos em um tempo de grande reflexão da legitimidade dos atos do primeiro, que são respaldados ou não pelo segundo. Independente da ressalva, trata-se da manifestação de alguns traços básicos de nosso caráter intelectual e de nossa condição política ; argumento irrefutável à parte, isso faz parte da nossa história sim , porém se nada fizermos, corremos o risco de continuar a ser apenas um país jovem que não sabe a que veio, nem o que tem a dizer, por medo, omissão ou covardia e, caso jamais inventemos nossa posição, nada viremos a ser, sem termos racionalizado sobre nossa exclusiva problemática nacional.
É repetitivo ainda falar das benesses do patrimonialismo brasileiro quando a própria definição não permite auto-definições, principalmente por se parecer tão impregnada nas nossas vidas e ao mesmo tempo dotada de tal flexibilidade de manifestação , que nem mesmo o menos lascivo dos seres pudesse prever até onde vai a abrangência desse câncer. Sob o aspecto histórico, uma justificativa plausível é entender que até onde se sabe, o direito contemporâneo é fruto de uma troca prevista no contrato-social, mas que acima de tudo , previu que para o estado de bem estar social se efetivar, os cidadãos, que são eu e você, deveriam abdicar de uma patologia crônica nas civilizações deixadas no passado: o egoísmo social. Não trata-se de discutir o direito material, da estrutura judiciária e do garantismo jurisdicional, pois estes já existem como a própria ontologia da questão denuncia: fala-se do direito de Voltaire, daquele que diz que o direito de cada um é lutar para que o do outro coexista. Significa mais ou menos dizer que , apesar do Senado ser corrompido, isso não me dá o direto de o ser , mesmo quando o Estado não cumpre com o seu papel existencial. O grande problema é que nós, brasileiros, ainda não conseguimos elucidar essa questão dentro de nossas filosofias: cobramos em demasiado das coisas formais e nos despreocupamos com as informais. Isso significa dizer que o altruísmo que deveria estar presente, ainda não chegou. Mesmo assim, o jeito brasileiro de resolver os conflitos ainda é inerente da nossa característica cultural, e é isso que nos faz brasileiros e nos enche de orgulho mundo afora. O jeito brasileiro é o que corrói o espírito social e o que nos afasta da civilização.
O milionário que chega no saguão do aeroporto e se depara com uma fila enorme burla o improvável e tenta de qualquer maneira se antecipar; o impaciente no supermercado fura a fila alegando motivos que mascaradamente justifiquem a sua pressa; o jovem que extrapolou a velocidade permitida suborna a autoridade para se livrar – são situações prosaicas que ocorrem diante dos nossos olhos diariamente, passam sem notabilidade e quando criticados, invertem o pólo da responsabilidade do inquisidor , alegando os interlocutores, caretice ou síndrome de querer- fazer- sempre-o-bem. Pois bem, vive-se em um lugar onde espantosamente a dicotomia mais contraditória é ação afirmativa travestida de autodefesa: pratica-se o errado julgando-se o certo e, critica-se o certo alegando o errado. Esse comportamento, diagnosticado como uma patologia social, é na verdade motivo de identidade dos compatriotas; gabam-se da maneira leve e despreocupada de viver, desprezando as premissas do bom convívio para a manutenção da paz social. Tais atitudes são ainda mais amiúde protegidas pelo argumento de que o brasileiro é um povo que sofre, mas que nunca desiste, o que contribuí para que a propaganda interna no ego dos brasileiros cresça e aumente a audiência daqueles que os assistem. A corrupção tão combatida não é proveniente de seres à parte da nossa realidade- eles não nasceram em lugar diverso do nosso, não conviveram com pessoas diversas de nós, não foram governadas por governos diversos dos nossos, o que significa dizer que em regra, um pouco do que a nossa ética se queixa, é aquilo que nós representamos na vida real, sem perceber que somos parte desta realidade que ajudamos a criar diariamente e, inconscientemente sem saber que “eles” na verdade, somos nós.