segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Cuidado: não vão te deixar dormir.


Eis uma denúncia terrível e que vai causar impacto na mídia internacional: não vão te deixar dormir. Após uma investida maciça na psicologia humana para que nós mesmos nos condenemos dos nossos pecados, acabaram de inventar um veneno invisível, algo ainda pior do que a bomba do Hussein. Se nos sentamos para esperar uma consulta, o telefone com televisão está ali para lhe entreter. A comida deve cozinhar antes mesmo de ficar pronta, para que o cliente não perca tempo dialogando sobre coisas fúteis do dia-dia. Almoço é hora sagrada- e serve para se fazer aquilo que não temos tempo nos outros horários.
A televisão tem uma logística interessante: a sequencia de quadros é tão poderosa que faz com que nós, que estamos ali sentados, fiquemos hipnotizados pelas cores e pelo movimento da velocidade da substituição dos takes. Parece que a pessoa quer fazer outra coisa, mas não consegue. Outra novidade: experimente apenas ouvir a televisão. A fala é feita para prender nossa concentração não na mensagem, mas na sonoridade.
Quem vive nesse mundo louco, raramente sentirá uma palavra chamada tédio. Pode ser que impaciência conviva diretamente conosco, mas tédio, jamais. Tédio incita o ócio, e ninguém quer parecer ocioso. O ócio é feio, e mais do que o próprio tédio, lembra de algo mal quisto e mal visto pela nossa sociedade: a vagabundagem. Em linhas gerais, chegamos ao ponto em que não precisamos mais de vigias para censurar nossos atos: somos atualmente nossas maiores câmeras de segurança, vivendo eternamente nos liames da boa vizinhança e eternamente no sentimento da satisfação alheia. Essa tarefa por mais absurda que pareça, é de alta comprovação empírica. Nossos celulares abrigam o microcosmo da vida urbana, para que não nos esqueçamos nem no momento da inércia absoluta que somos seres flexíveis , e que sim, podemos não poder ficar parados à deriva se quisermos- e eu hei de querer. A boa nova é que a própria fotografia já denunciou a tragédia anunciada: da mesma maneira que câmeras são desenvolvidas para captar mais frames por segundo a cada dia, a memória não será mais suficiente para a quantidade de informação presente em cada quadro quando exaurir a sua capacidade, pois em um segundo só caberá algo que a visão e o próprio tempo permitir. Falando na língua humana, teremos em breve seres que retardarão no tempo dos frames por segundo, por puro e simples excesso de informação, se tornando os mais novos obsoletos produtos do mercado.

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