domingo, 28 de março de 2010

Nem Freud explica


Talvez não tenha sido bem interpretado no último post quando disse que temos um senso de justiça enlatado, mas explico: foi de certa maneira uma reação sobre à situação que todos os meios de comunicação divulgaram esta semana de forma uníssona e sempre muito bem decidida: o júri popular do milênio da história do Brasil do Estado de São Paulo. O resumo da ópera é que parece-me muito importante à mídia ter dado um foco milagrosamente transparente ao caso de "injustiça e impunidade"( palavras deles) como este, para nos dar a sensação de compensação de todos os outros casos de igual injustiça e impunidade ( palavras minhas) que são omitidos diariamente.
Sem dúvida vivemos no País da contradição. Casos como este, acreditem, ocorrem todos os dias no Brasil inteiro e ninguém se importa. Mas me pergunto: não deveria a mídia ( leia-se quase todos os veículos de informação) dar um pouco mais de atenção aos casos que realmente comovem qualquer pessoa com um sentimento de real indignação e desrespeito? Digo dos casos de corrupção não julgados, do corporativismo parlamentar tão mais nocivo à sociedade. Porque não existe tanto empenho em resolver aos mistérios dos atos secretos e porque nestes casos de conluio das CPI's, a perícia nunca consegue dar um laudo conclusivo a favor do interesse maior da nossa sociedade?
Quando menciono que temos um senso de justiça enlatado é exatamente por que incrivelmente, vivemos num país onde a informação, que a deveria de ser, às vezes mais parece ser uma repartição de imprensa do DOPS. Dou o nome disse de alienação. Se existe alienação é por que existe o alienado, ou aquele que não tem educação nem conhecimento para discernir o seu próprio julgamento. Se a corrupção existe, da mais simples à mais sofisticada, é porque a nossa sociedade ainda não absorveu determinados valores que são inerentes ao seu crescimento como civilização, advindos em sua grande maioria pela educação das crianças. Existe crime maior do que este? Sim.
Se existe a fronteira entre opressão e liberdade, deve-se muito ao livre-pensamento, e o exercício da livre informação praticado em muito pelos meios de comunicaçao. Pois bem, pouco me importa quem é o culpado da morte. Deixo isso para eles e para o travesseiro deles. Mas os infanticídios que são cometidos diariamente por não existir escolas suficientes para instruí-las ou quando falta merenda na escola com os impostos que eu e você pagamos pois as verbas foram desviadas, aí sim, isto torna-se um problema meu também. Aí sim, a promotoria deverá encher a boca para condenar antes de julgar e você também, deverá tomar partido com os cartazes gritando por justiça de fora do Plenário.
Quem acabou de ser condenado fomos todos nós, com um belo exemplar da alienação da nossa bipolar Imprensa Brasileira.

terça-feira, 23 de março de 2010

Indas e vindas da epopeia grega


Me perguntaram o porquê de ter um blog e não escrever sobre temas jurídicos. Pois bem, vamos lá:
Em uma discussão num programa de TV sobre as ações afirmativas e sua eficácia, foi abordado como de praxe o aspecto jurídico em contrapartida ao pragmatismo sociológico. São conceitos estes inabreviáveis, portanto me perdoeem a prolixidade. A questão era saber o limite da "legalidade" nas questões que são iminentemente sociais. Explico: criar condições para favorecer aos desfavorecidos, conceito de Ruy Barbosa, é de certo modo uma situação que cria um alto grau de insegurança jurídica, pois permite a abertura de exceções para determinadas naturezas de conflitos. O exemplo é facilmente compreensível se levarmos em conta a Lei Maria da Penha, dos direitos indígenas, dos direitos dos negros etc etc etc. A discussão é infinita e os debates, recorrentes. No entanto me chamou a atenção de uma mestranda em Ciências Sociais pela USP, que suscitou a possibilidade de olhar por um outro prisma. Partindo do pressusposto que deve-se defender os princípios constitucionais acima de tudo, neste caso, as ações afirmativas ferem o da igualdade e da isonomia. O conceito por si só é auto-explicativo. Mas a tal Mestre deu um banho, na minha opinião, em todos os outros mestres em Direito Constitucional. O princípio da Legalidade tem carregado na sua essência a legislação; mas não desobriga o legislador a não se ater às questões de cunho social que precisam ser debatidas, e não simplesmente remendadas e varridas para debaixo do tapete. Apesar de toda a evolução, ainda é pouco. Em país em que se leva na literalidade a ideia de Justiça, da imparcialidade da Deusa Têmis, tem-se um árduo caminho para se percorrer até chegar na evolução da "inclusão dos outros", de Habermas. O que ela quis dizer é que o próprio princípio da isonomia cria um ambiente um pouco controverso para as discussões de cunho social. Para se discutir, é preciso pedir com licença à Constituição, caso contrário o STF te faz ajoelhar no milho e pedir perdão.
Bom, a questão é que a própria história, mesmo que em forma de epopeia, já denunciava isto. Temis, a Deusa da Justiça,teve uma filha chamada Dike. Dizem que as gerações futuras são a evolução das anteriores: nasceu de pé descalços, com uma espada empunhada e a balança na outra mão. Mas o melhor é que nasceu sem as vendas. Ao contrário de sua mãe, não queria ser cega. Tá certo, fazia questão de ver tudo.
Talvez seja um pouco disso também para a interpretação de todas as coisas que tocam o nosso enlatado senso de justiça, ética e moral. E como a própria tal da Dike já dizia no passado, é possível fazer 3 coisas ao mesmo tempo: lutar com a espada, pesar com a justiça, e principalmente, olhar para o injusto sem as vendas de Temis.

sábado, 20 de março de 2010

Viciados em filmes


Imagine se você pudesse escolher a fotografia da sua vida. Não digo da sua imagem preferida, mas da forma como sua vida é fotografada. O ajuste de luz, o recuo, o zoom, o flash...enfim, o que você fotografaria?
Bom, tenho a opinião de que nossos olhos são pura fotografia. Posso comprovar isso pelos momentos que marcam na nossa memória, normalmente por serem coisas fortes que chamam atenção pelo simples fato de serem diferente daquilo que estamos acostumados a ver. Mas e todas as outras coisas? E todos os outros momentos que não temos fôlego para fotografar, porque não sei, estamos com pressa ou simplesmente muito viciados para não reparar em algo comum?
Conheço um gênio, e ele consegue enxergar exatamente o que o homem-médio tem aversão: as coisas banais. Melhor do que enxergar, ele fotografa na memória e ainda conta. Essa sagacidade é algo ímpar, que prende a atenção no momento de ouvir uma história. Consegue achar beleza na comunhão dos lixeiros em plena aurora sonolenta, e isso fica registrado como algo deveras importante. Talvez seja um pouco temeroso o fato de que não reconheçamos que temos na nossa memória apenas imagens que são importantes para nós. Certamente poderíamos ser mais generosos com a fotografia alheia e aprender um pouco mais com o universo que nos cerca. Penso no exemplo da águia: é um ser que se aproxima dos céus, e tem visão tão aguçada que pode não somente enxergar mais longe como com mais detalhes como nem um outro alguém. Daí me pergunto: se creio enxergar tão bem com minha visão saudável, como poderia ser enxergar ainda com mais detalhes por exemplo, à uma árvore, que para mim parece perfeita, cheia de cores e detalhes? Se pudesse enxergar mais a fundo do que teoricamente posso, esta árvore deixaria de ser uma árvore?
Fotografia não exige técnica, e sim disposição. É preciso dar um pause na câmera de filmar diária e saborear um pouco do diafragma mais perfeito que o homem já pôde criar: nossos próprios olhos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

É fácil se perder com as coisas novas. Você não as conhece, nem elas conhecem você. Com o tempo se acostuma, e o novo, pouco a pouco, dá o tom de liberadade plena.
Mais fácil ainda é se acomodar com o velho, antes mesmo de que se perceba que o velho na verdade, é realmente o puro comodismo.
Mas o oposto também acontece. Com essa liberdade, as coisas mudam novamente. Aprende-se a viver mais para si sem que isso se pareça egoísmo. Não é fácil escolher viver desta maneira: renunciar às coisas velhas é um ritual por muitas vezes doloroso, mas que pode valer a pena.
A liberade dá uma chance única para aqueles que querem se redimir de sua história: faz com que ajam unicamente em função do que lhes faz feliz. Faz com que conjuguem menos o nós em função dos outros, faz com que percebam que a força individual pode levá-los para onde quiserem ir.
Descobrir que dentro de si, existe uma força que não se imaginava ter. Que sua capacidade vai além do que se pensa poder fazer. Percebe que a vida é muito mais do que a soma do passado com o futuro e que o que realmente faz a grande diferença é o momento que se chama agora. E quer saber, definitivamente o paraíso mora dentro daqueles que são livres.