sábado, 20 de março de 2010

Viciados em filmes


Imagine se você pudesse escolher a fotografia da sua vida. Não digo da sua imagem preferida, mas da forma como sua vida é fotografada. O ajuste de luz, o recuo, o zoom, o flash...enfim, o que você fotografaria?
Bom, tenho a opinião de que nossos olhos são pura fotografia. Posso comprovar isso pelos momentos que marcam na nossa memória, normalmente por serem coisas fortes que chamam atenção pelo simples fato de serem diferente daquilo que estamos acostumados a ver. Mas e todas as outras coisas? E todos os outros momentos que não temos fôlego para fotografar, porque não sei, estamos com pressa ou simplesmente muito viciados para não reparar em algo comum?
Conheço um gênio, e ele consegue enxergar exatamente o que o homem-médio tem aversão: as coisas banais. Melhor do que enxergar, ele fotografa na memória e ainda conta. Essa sagacidade é algo ímpar, que prende a atenção no momento de ouvir uma história. Consegue achar beleza na comunhão dos lixeiros em plena aurora sonolenta, e isso fica registrado como algo deveras importante. Talvez seja um pouco temeroso o fato de que não reconheçamos que temos na nossa memória apenas imagens que são importantes para nós. Certamente poderíamos ser mais generosos com a fotografia alheia e aprender um pouco mais com o universo que nos cerca. Penso no exemplo da águia: é um ser que se aproxima dos céus, e tem visão tão aguçada que pode não somente enxergar mais longe como com mais detalhes como nem um outro alguém. Daí me pergunto: se creio enxergar tão bem com minha visão saudável, como poderia ser enxergar ainda com mais detalhes por exemplo, à uma árvore, que para mim parece perfeita, cheia de cores e detalhes? Se pudesse enxergar mais a fundo do que teoricamente posso, esta árvore deixaria de ser uma árvore?
Fotografia não exige técnica, e sim disposição. É preciso dar um pause na câmera de filmar diária e saborear um pouco do diafragma mais perfeito que o homem já pôde criar: nossos próprios olhos.

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