domingo, 18 de abril de 2010


Sorte ou azar, por ter nascido na terra dos Carnavais, terra esta que fazia sol de fazer o caboclo se arrepender de ter nascido e de presenciar a seca que faz o ovo fritar no chão batido e terra esta que chove e faz frio no mesmo dia, morava um dos deles, chamado Albuquerque. Costumavam lhe chamar pelo patronímico por ser tradição, fazia soar a importância da história da família, mas ele realmente não tinha importância social. Não era advogado, tampouco se formou em Medicina.
A terra dos Carnavais, era a de sua região, de longe a mais previsível. A menos efervescente em ideias, os que ali nasciam sabiam exatamente o que estariam fadados no decorrer de suas vidas. Alguns plantavam, outros tantos trabalhavam em escritórios, mas a maioria mesmo saía da floresta em busca de uma nova oportunidade na grande cidade. Esteticamente parecia uma cidade como qualquer outra: vias cheias de carro, trânsito insuportável e fumaça para todo o lugar; no mesmo local se concentravam sedes da burocracia carnavalesca, os órgãos do Estado, as universidades bolcheviques, gente correndo para matar o tempo, gente ganhando dinheiro em cima de tantos outros e tantos outros palestrando para matar a fome da grande maioria, enfim, um grande aborrecimente nacional. O fato é que ilusão ou não, o País se fantasiava uma vez por ano para travestir que na verdade, não era uma terra de verdade, e seus cidadãos, faziam com toda a pompa bravejar sua honestidade, hospitalidade, e força para lutar e caminhar mesmo com todas as dificuldades do Carnaval. Mas talvez o mais bonito, era o bom senso. Além de muitos se acharem inteligentes por sua educação política, o poliglotismo era muito valorizado. Há quem diga que quem falasse latim até conseguisse um lugar melhor no céu. E assim ia, como quase que uma escala pluviométrica, iam lhes enchendo a cabeça de que títulos pudessem ser como a água, para levar-los para algum lugar melhor. Com certeza, se não fosse a terra dos carnavais, a terra dos carnavais com certeza seria a terra dos títulos.
E não à toa, que voltemos na história de Albuquerque, que apesar de ter nascido e vivido e ter sido educado na terra dos carnavais, ainda era diferente. Sua família lhe estranhava pela sua ingenuidade, pela sua prestreza e pelos sentimentos que tinha pelas outras pessoas. Sentia pena e comoção quando via alguém com fome, mesmo que os traunsentes considerassem aquilo normal. Sorte ou azar, começaram a lhe enxergar como a própria revolução: era bizarro e ao mesmo tempo um guru dos tempos. Não entendiam porque não lhe convia seguir as regras que toda a história havia seguido. De seu modo de vestir à sua forma de pensar, diriam os burocratos em latim que era o próprio "ad hominem". Mas talvez o que mais chocasse era sua forma genuína de pensar: pensava por conta própria e isso era realmente perigoso. Lhe recorriam por vezes para tentar descobrir o que havia de errado, com insucesso.
Com esta história, Albuquerque nasceu e viveu. Sua família nada pôde fazer por muito tempo a não ser começar a cogitar a possibilidade de remendar Albuquerque, dando lhe trabalho e ocupação. Não que fosse um homem ruim, que precisasse de reabilitação. Ao contrário, tinha a mania irritante de ser bom e honesto, seu coração era visivelmente puro e dotado de boas intenções.
- Se queres subir na vida, precisa de um título. Apenas um título, qual seja ele. Será-lhe suficiente para arranjar algum cargo público, ou em alguma repartição burocrática nacionalista.Depois disso, é tudo ascensão. O que queres?
- Quero pensar para trabalhar, e não ao contrário. É possível?
- Veja. Fica mais fácil trabalhar para os papeis. Veja, o Estado tem muitos papeis nas suas salas, e isso é maravilhoso. Além disso, o Estado...o Estado somos nós- como se pudesse bradar na voz de Luis XV o l'État c'est moi.- Ora, trabalhar para os outros é loucura. Lisonjeios falam mais baixo que o próprio resultado, então terás que trabalhar de fato.

Albuquerque foi pensar. Matriculou-se no Liceu daquela terra, e seja em qualquer área da ciência propedêutica, teve a impressão de encontrar seu lugar finalmente. Seu mestre, Maximiliano, lhe adotou com certa compreensão pela sua história sofrida. Tinha algum sentimento desconhecido por aquele ser, sabendo que ele de fato não era normal. Ainda tinha dúvidas se era patologia ou dislexia, porém mantinha para si aquela opinião. Não suficiente suportar a situação por muito tempo, chamou Albuquerque no canto no final de um curso :
- É deveras diferente. Faz mais do que os outros, tem uma mania insistente de contestar aquilo que os livros próprios dizem. São eles a eterna fonte da sabedoria, não há um grão que poderás fazer para mudar teorias de toda a história.
- Prejudico-lhe?
- Não, mas poderás sofrer. Possivelmente sofrerás. Provavelmente sofrerás. Pensais por contra própria, e isso é demasiadamente perigoso. Altera o bom senso das pessoas; tapas de luvas dóem mais do que de verdade.
Na terra dos carnavais, o Liceu era quase que uma seita. Dali saíam as grandes cabeças, já reguladas e moldadas para ocupar os grandes cargos burocráticos. Dali, saíam mais forte por causa da tortura. Diziam que vedar a vontade de gritar de dor potencializava o seu título, e poderia cada vez mais suportar mais e mais sem que lhes incomodasse as opiniões injustas. Treinavam ali seres biologicamente superiores, pois saíriam em escala evolutiva visivelmente superior ao resto das outras pessoas. Em ultimato, veio o Sr. Maximiliano e lhe disse:
- Terás que sair. Não lhe suportam por causas das dúvidas que geras.
-Já sabia Sr. Maximilano.
Neste meio tempo, abriu o livro que carregava consigo e não por acaso leu ao mestre:
- "Ser normal é talvez a coisa mais útil e conveniente com que podemos sonhar. Mas a noção de ser humano normal, tal como o conceito de adaptação, implica limitar-se a média. Ser normal é o ideal dos que não tem êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidade acima da média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar a sua cota parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral a não serem nada senão normais significa o leito de tortura: mortal e insuportavelmente tedioso, um inferno de esterilidade e desespero".
- Sugiro procurar uma Igreja. Ela lhe acertará algo que falha.Tenho um Padre conhecido na Igreja Três-quartos; chama-se Antenor.
E cansado das intervenções alheias, decidiu Albuquerque procurar sua própria sorte. Nunca havia tido muita simpatia pelo Clero da cidade, não gostava das declarações dos padres nas paróquias e da própria censura da sua família em não ser praticante da religião, identidade da família e tradição na história da família Albuquerque por tantos anos, seria ele também a quebrar esse rito mais uma vez. Chegando em casa, a mãe lhe abraçou e parabenizou-o pela decisão.
- Finalmente terás uma vida correta!
Chegando na Igreja, confessou ao Padre seu incômodo:
- Sou correto demais, justo demais, honesto demais.
- É problema na tua essência; está desregulada. Acontece de ora em ora no momento da concepção, dizem ser um problema de fábrica. Talvez seja imprevisão nas peças do livre-arbítrio.
Albuquerque atalhou:
— E o senhor fica com o meu livre-arbítrio?
— Se o deixar.
Repousou-o dentro de uma caixa preta.
— Pois aqui o tem. Conserte-o. O diabo é que eu não posso andar sem ele, pelo menos para as decisões menos importantes.
— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe um de plástico.
— Funciona?
— É de plástico. explicou o honesto Padre. Albuquerque recebeu o chassi de sua essência, enfiou a de plástico, e saiu para a rua.
Dois meses depois, Albquerque tinha a simpatia da vizinha, tomava cerveja com o Chefe da Repartição, ganhava uma pequena fortuna fazendo duplicatas frias para os comerciantes do país ao lado. Sua mãe via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porém, veneravam-o, e os companheiros não tinham saudades em recordar o tempo em que Albuquerque era desregulado. De fato não pensava, apenas agia como os outros. Queria subir mais alto, e esqueceu a ideia de andar para frente. Explorava, adulava, falsificava, extorquia, corrompia, tergiversava. Sua mãe se orgulhava vendo seu filho com juízo. No centro proletariado, o seu reconhecimento crescia; era bajulado dos chefes burocratas, da frota proletariada e dos irmãos bolcheviques da Rússia. Foi eleito representante por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — A sua subida era comparada ao de um foguete rumo à Lua. Esqueceu rapidamento do passado doloroso, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente. Largou a dúvida para o passado.
Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País dos Carnavais encontravam divergências para encontrar o nome do próximo representante, e que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Albuqueruqe era o mais bem quisto. Então ele passeava de carro pelas ruas movimentadas, quando rememorou da Igreja que havia deixado seu livre-arbítrio. Tinha pressa, pois precisava chegar ao local da votação com rapidez e agilidade. Acreditou que 5 minutos ali não lhe fariam mal. Entrou na Igreja, e procurou pelo Padre Antenor.
- Veja, deixei meu livre-arbítrio há tempos para reparo. Por infortúnio, olividei-me de buscá-la.
- Não prossiga. Tenho aguardado ansiosamente pelo Senhor. Como está o de plástico? Regula bem?
- Absurdamente bem. Minhas dúvidas passaram.
- Olha, os livre-arbítrios de plásticos não são de toda a matéria ruim. São de fato provisórios, mas me espanta ter se encaixado com tanta perfeição no local em que ocupava a anterior.
- Porque ponderas?
- Bem, posso lhe dizer que em anos de Ministério, jamais encontrei artefato tão perfeito. É a placa precisa do próprio Universo, tem o equilíbrio das vibrações. Enfim, é atemporal. Tens uma obra-prima, um masterpiece de Sarte. Quiça me arrisco a dizer que isso é obra do próprio Deus.
Albuquerque hesitou em recolocar o antigo depois das considerações do Padre.
-Embrulhe-o por favor.
-Não o coloca de volta?
- Não, por favor.
- Ora Albuquerque, adverto-lhe que este não é utensílio trivial e cotidiano. Deve ser usado com um Tuxedo para festa de gala, caso contrário inevitavelmente dará de fatona cara. Fará com que se torne um homem superior.
Mas Albuquerque não era tolo, havia aprendido a respeitar a ordem social e a harmonia do homem-médio.
- Acredita causar discórdia mesmo se como objeto de decoração? Há chances de que fatalmente um dia ele me prejudique?
- Possivelmente. Ela fatalmente voltará a brigar com a sua consciência. Porque não tenta?
- Prefiro não arriscar. Prefiro ficar com a opinião dos outros, aquele que dizia que ele não servia. Livre-arbítrios devem estar em consonância com o clima e com as virtudes de cada povo, caso contrário podem fazer mal aos outros como eu mesmo fiz. Da nota que me deram em buscar sair da normalidade, conheci o homem-médio que sou, e para mim,convém-me manter assim.
-Leve-o consigo - mudando de ideia.
E assim, começou e terminou a história de Albuquerque, o homem que não conseguiu ser nada nem com nem sem o melhor do artefato já disponibilizado por Deus na terra dos Carnavais.

domingo, 28 de março de 2010

Nem Freud explica


Talvez não tenha sido bem interpretado no último post quando disse que temos um senso de justiça enlatado, mas explico: foi de certa maneira uma reação sobre à situação que todos os meios de comunicação divulgaram esta semana de forma uníssona e sempre muito bem decidida: o júri popular do milênio da história do Brasil do Estado de São Paulo. O resumo da ópera é que parece-me muito importante à mídia ter dado um foco milagrosamente transparente ao caso de "injustiça e impunidade"( palavras deles) como este, para nos dar a sensação de compensação de todos os outros casos de igual injustiça e impunidade ( palavras minhas) que são omitidos diariamente.
Sem dúvida vivemos no País da contradição. Casos como este, acreditem, ocorrem todos os dias no Brasil inteiro e ninguém se importa. Mas me pergunto: não deveria a mídia ( leia-se quase todos os veículos de informação) dar um pouco mais de atenção aos casos que realmente comovem qualquer pessoa com um sentimento de real indignação e desrespeito? Digo dos casos de corrupção não julgados, do corporativismo parlamentar tão mais nocivo à sociedade. Porque não existe tanto empenho em resolver aos mistérios dos atos secretos e porque nestes casos de conluio das CPI's, a perícia nunca consegue dar um laudo conclusivo a favor do interesse maior da nossa sociedade?
Quando menciono que temos um senso de justiça enlatado é exatamente por que incrivelmente, vivemos num país onde a informação, que a deveria de ser, às vezes mais parece ser uma repartição de imprensa do DOPS. Dou o nome disse de alienação. Se existe alienação é por que existe o alienado, ou aquele que não tem educação nem conhecimento para discernir o seu próprio julgamento. Se a corrupção existe, da mais simples à mais sofisticada, é porque a nossa sociedade ainda não absorveu determinados valores que são inerentes ao seu crescimento como civilização, advindos em sua grande maioria pela educação das crianças. Existe crime maior do que este? Sim.
Se existe a fronteira entre opressão e liberdade, deve-se muito ao livre-pensamento, e o exercício da livre informação praticado em muito pelos meios de comunicaçao. Pois bem, pouco me importa quem é o culpado da morte. Deixo isso para eles e para o travesseiro deles. Mas os infanticídios que são cometidos diariamente por não existir escolas suficientes para instruí-las ou quando falta merenda na escola com os impostos que eu e você pagamos pois as verbas foram desviadas, aí sim, isto torna-se um problema meu também. Aí sim, a promotoria deverá encher a boca para condenar antes de julgar e você também, deverá tomar partido com os cartazes gritando por justiça de fora do Plenário.
Quem acabou de ser condenado fomos todos nós, com um belo exemplar da alienação da nossa bipolar Imprensa Brasileira.

terça-feira, 23 de março de 2010

Indas e vindas da epopeia grega


Me perguntaram o porquê de ter um blog e não escrever sobre temas jurídicos. Pois bem, vamos lá:
Em uma discussão num programa de TV sobre as ações afirmativas e sua eficácia, foi abordado como de praxe o aspecto jurídico em contrapartida ao pragmatismo sociológico. São conceitos estes inabreviáveis, portanto me perdoeem a prolixidade. A questão era saber o limite da "legalidade" nas questões que são iminentemente sociais. Explico: criar condições para favorecer aos desfavorecidos, conceito de Ruy Barbosa, é de certo modo uma situação que cria um alto grau de insegurança jurídica, pois permite a abertura de exceções para determinadas naturezas de conflitos. O exemplo é facilmente compreensível se levarmos em conta a Lei Maria da Penha, dos direitos indígenas, dos direitos dos negros etc etc etc. A discussão é infinita e os debates, recorrentes. No entanto me chamou a atenção de uma mestranda em Ciências Sociais pela USP, que suscitou a possibilidade de olhar por um outro prisma. Partindo do pressusposto que deve-se defender os princípios constitucionais acima de tudo, neste caso, as ações afirmativas ferem o da igualdade e da isonomia. O conceito por si só é auto-explicativo. Mas a tal Mestre deu um banho, na minha opinião, em todos os outros mestres em Direito Constitucional. O princípio da Legalidade tem carregado na sua essência a legislação; mas não desobriga o legislador a não se ater às questões de cunho social que precisam ser debatidas, e não simplesmente remendadas e varridas para debaixo do tapete. Apesar de toda a evolução, ainda é pouco. Em país em que se leva na literalidade a ideia de Justiça, da imparcialidade da Deusa Têmis, tem-se um árduo caminho para se percorrer até chegar na evolução da "inclusão dos outros", de Habermas. O que ela quis dizer é que o próprio princípio da isonomia cria um ambiente um pouco controverso para as discussões de cunho social. Para se discutir, é preciso pedir com licença à Constituição, caso contrário o STF te faz ajoelhar no milho e pedir perdão.
Bom, a questão é que a própria história, mesmo que em forma de epopeia, já denunciava isto. Temis, a Deusa da Justiça,teve uma filha chamada Dike. Dizem que as gerações futuras são a evolução das anteriores: nasceu de pé descalços, com uma espada empunhada e a balança na outra mão. Mas o melhor é que nasceu sem as vendas. Ao contrário de sua mãe, não queria ser cega. Tá certo, fazia questão de ver tudo.
Talvez seja um pouco disso também para a interpretação de todas as coisas que tocam o nosso enlatado senso de justiça, ética e moral. E como a própria tal da Dike já dizia no passado, é possível fazer 3 coisas ao mesmo tempo: lutar com a espada, pesar com a justiça, e principalmente, olhar para o injusto sem as vendas de Temis.

sábado, 20 de março de 2010

Viciados em filmes


Imagine se você pudesse escolher a fotografia da sua vida. Não digo da sua imagem preferida, mas da forma como sua vida é fotografada. O ajuste de luz, o recuo, o zoom, o flash...enfim, o que você fotografaria?
Bom, tenho a opinião de que nossos olhos são pura fotografia. Posso comprovar isso pelos momentos que marcam na nossa memória, normalmente por serem coisas fortes que chamam atenção pelo simples fato de serem diferente daquilo que estamos acostumados a ver. Mas e todas as outras coisas? E todos os outros momentos que não temos fôlego para fotografar, porque não sei, estamos com pressa ou simplesmente muito viciados para não reparar em algo comum?
Conheço um gênio, e ele consegue enxergar exatamente o que o homem-médio tem aversão: as coisas banais. Melhor do que enxergar, ele fotografa na memória e ainda conta. Essa sagacidade é algo ímpar, que prende a atenção no momento de ouvir uma história. Consegue achar beleza na comunhão dos lixeiros em plena aurora sonolenta, e isso fica registrado como algo deveras importante. Talvez seja um pouco temeroso o fato de que não reconheçamos que temos na nossa memória apenas imagens que são importantes para nós. Certamente poderíamos ser mais generosos com a fotografia alheia e aprender um pouco mais com o universo que nos cerca. Penso no exemplo da águia: é um ser que se aproxima dos céus, e tem visão tão aguçada que pode não somente enxergar mais longe como com mais detalhes como nem um outro alguém. Daí me pergunto: se creio enxergar tão bem com minha visão saudável, como poderia ser enxergar ainda com mais detalhes por exemplo, à uma árvore, que para mim parece perfeita, cheia de cores e detalhes? Se pudesse enxergar mais a fundo do que teoricamente posso, esta árvore deixaria de ser uma árvore?
Fotografia não exige técnica, e sim disposição. É preciso dar um pause na câmera de filmar diária e saborear um pouco do diafragma mais perfeito que o homem já pôde criar: nossos próprios olhos.

sexta-feira, 19 de março de 2010

É fácil se perder com as coisas novas. Você não as conhece, nem elas conhecem você. Com o tempo se acostuma, e o novo, pouco a pouco, dá o tom de liberadade plena.
Mais fácil ainda é se acomodar com o velho, antes mesmo de que se perceba que o velho na verdade, é realmente o puro comodismo.
Mas o oposto também acontece. Com essa liberdade, as coisas mudam novamente. Aprende-se a viver mais para si sem que isso se pareça egoísmo. Não é fácil escolher viver desta maneira: renunciar às coisas velhas é um ritual por muitas vezes doloroso, mas que pode valer a pena.
A liberade dá uma chance única para aqueles que querem se redimir de sua história: faz com que ajam unicamente em função do que lhes faz feliz. Faz com que conjuguem menos o nós em função dos outros, faz com que percebam que a força individual pode levá-los para onde quiserem ir.
Descobrir que dentro de si, existe uma força que não se imaginava ter. Que sua capacidade vai além do que se pensa poder fazer. Percebe que a vida é muito mais do que a soma do passado com o futuro e que o que realmente faz a grande diferença é o momento que se chama agora. E quer saber, definitivamente o paraíso mora dentro daqueles que são livres.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Deus existe? Dois ensaios sobre cosmologia.




"Se Deus não existe, então tudo é permitido"




Já dizia Ivan.
Talvez para os mais descrentes, o início de tudo começa no momento da escolha. Mas e antes da escolha, quem a fez por nós? Se somos produto de algo anterior, aonde afinal é o começo?
Este raciocínio serve para ilustrar a nossa inconstância diante do universo e, que invariavelmente, nos coage a crer em algo superior à nossa possibilidade de escolha de viver. Pode-se escolher morrer, mas jamais se poderá escolher nascer.
Nesta esfera, vislumbro as possibilidades de compreensão da origem do cosmos, e dos seres do cosmos que somos nós. Em primeiro lugar, fazemos parte do cosmos. Em segundo lugar, pulsamos juntamente com ele. Por isso, importante ter ciência de que ninguém nos cria nesta vida, e sim que somos produto de uma origem anterior, datada do início do universo. A energia que nos criou pode ser caracteriza como Divina, pois incita a Supremidade da criação. Religião nenhuma cria nem destrói nenhum ser, deixai-vos cientes disto.
Somos então impulso das vidas anteriores, materializados em seres que falam e compreendem neste plano que chama-se vida humana- no entanto esta vida aqui não está sozinha, nem será a última das nossas passagens.
É aí que entra a cosmologia orgânica: ela vai tentar explicar a lógica da evolução humana, através do empirismo científico: para se ter uma ideia, a imagem mais detalhada do tecido terrestre se assemelha na forma com a imagem mais detalhada do tecido do universo: elétrons e constelações têm a mesma forma elíptica e, acredite, isto não é mero acaso. A cosmologia serve como o respaldo para fundamentar as teorias newtonianas e da infungibilidade da matéria: nada se perde, nem se cria: tudo se transforma. O universo não comporta vacilos. Assim como nós, que fomos algo anterior, somos hoje algo atualmente em evolução, em direção todos a um único destino: a posteridade.
Para o outro lado da moeda, mas não paradoxal, o espiritualismo se envolve com a alma como forma de demonstrar que somos eternos produtos de nós mesmos. Mas o que isso afinal quer dizer?
Crer em acaso para a cosmologia é como crer na imperfeição do universo, porém o universo é único e perfeito, mesmo que para a nossa compreensão atual isso pareça equivocada. Cada qual tem seu liame de evolução, e a vida atual é apenas o instrumento que nos fora disponibilizado para que passemos para o próximo plano, de maneira mais edificada e virtuosa. Viver de forma edificante é simples e exige receita única: seguir o propósito. Propósito este, que poderá ser comumente equivocado com destino, porém este não abriga um mero detalhe chamado poder de escolha ( Liberdade + livre arbítrio )
Mas um alerta: é importante não se desvencilhar do conceito de heresia, daquele que preceitua oriundo do grego opção. Cada um tem sua escolha, e inevitavelmente, carregaremo-as juntamente com nossas renúncias para "o outro lado de lá".

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Cuidado: não vão te deixar dormir.


Eis uma denúncia terrível e que vai causar impacto na mídia internacional: não vão te deixar dormir. Após uma investida maciça na psicologia humana para que nós mesmos nos condenemos dos nossos pecados, acabaram de inventar um veneno invisível, algo ainda pior do que a bomba do Hussein. Se nos sentamos para esperar uma consulta, o telefone com televisão está ali para lhe entreter. A comida deve cozinhar antes mesmo de ficar pronta, para que o cliente não perca tempo dialogando sobre coisas fúteis do dia-dia. Almoço é hora sagrada- e serve para se fazer aquilo que não temos tempo nos outros horários.
A televisão tem uma logística interessante: a sequencia de quadros é tão poderosa que faz com que nós, que estamos ali sentados, fiquemos hipnotizados pelas cores e pelo movimento da velocidade da substituição dos takes. Parece que a pessoa quer fazer outra coisa, mas não consegue. Outra novidade: experimente apenas ouvir a televisão. A fala é feita para prender nossa concentração não na mensagem, mas na sonoridade.
Quem vive nesse mundo louco, raramente sentirá uma palavra chamada tédio. Pode ser que impaciência conviva diretamente conosco, mas tédio, jamais. Tédio incita o ócio, e ninguém quer parecer ocioso. O ócio é feio, e mais do que o próprio tédio, lembra de algo mal quisto e mal visto pela nossa sociedade: a vagabundagem. Em linhas gerais, chegamos ao ponto em que não precisamos mais de vigias para censurar nossos atos: somos atualmente nossas maiores câmeras de segurança, vivendo eternamente nos liames da boa vizinhança e eternamente no sentimento da satisfação alheia. Essa tarefa por mais absurda que pareça, é de alta comprovação empírica. Nossos celulares abrigam o microcosmo da vida urbana, para que não nos esqueçamos nem no momento da inércia absoluta que somos seres flexíveis , e que sim, podemos não poder ficar parados à deriva se quisermos- e eu hei de querer. A boa nova é que a própria fotografia já denunciou a tragédia anunciada: da mesma maneira que câmeras são desenvolvidas para captar mais frames por segundo a cada dia, a memória não será mais suficiente para a quantidade de informação presente em cada quadro quando exaurir a sua capacidade, pois em um segundo só caberá algo que a visão e o próprio tempo permitir. Falando na língua humana, teremos em breve seres que retardarão no tempo dos frames por segundo, por puro e simples excesso de informação, se tornando os mais novos obsoletos produtos do mercado.