"Já diziam os oráculos da verdade, a única coisa que o homem possa a vir sucumbir é à mudança. Seres mais evoluídos com toda a certeza já vem preparados de berço para transmutar. Temos visto por todas as partes. Acompanhado a evolução individual e coletiva; temos visto as veredas daqueles que passam por nós e nos acompanham. Coisas boas nos apontam, sem dúvida. Talvez a mudança latente em algo superior inspire os outros a buscá-las sem temor, afinal, mudar faz parte do evoluir.
No Brasil, vemos um movimento interessante, de desalienação da sociedade civil. Por muito tempo, estivemos lacrados nos baús do Leviatã sem por muito ter o que questionar. Nos disseram que precisaríamos de tempo para maturação da civilização. Hoje, a fusão da meia geração X com meia geração Y, nos proporciona uma ótima discussão sobre as futuras possibilidades. O momento de traçar o futuro é somente no presente. O agora fala mais alto do que qualquer tempo. Temos o tacão de ferro dominante gritando mais alto do que nunca.
O medo agora é o do lado de lá.
É chegado o momento de uma mudança espiritual: abdicar os preconceitos que temos sobre nós mesmos, e fazer algo diferente. Para a vida de cada um.
É o momento de saudação à Era benvinda, Aquários já antevê a abundância.
E num período de preparação, que fiquemos cientes de que a mudança virá, e cada um terá de escolher se pretende mudar ou não."
Saudações
quinta-feira, 10 de junho de 2010
terça-feira, 8 de junho de 2010
Liberdade de expressão x liberdade de imprensa
No conversa afiada de hoje,
O professor Venício A. de Lima acaba de lançar pela editora Publisher o livro “Liberdade de expressão x Liberdade de imprensa – Direito à Comunicação e Democracia” .
Ele conversou com Paulo Henrique Amorim por telefone.
Sobre a diferença entre Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa, Venício Lima explicou que “liberdade de expressão” é um direito do indivíduo, um direito fundamental do ser humano, o direito à fala.
“Liberdade de imprensa” é o direito de imprimir, “print” em inglês. Com o passar do tempo, o direito de imprimir se tornou o direito de grandes conglomerados empresariais.
PHA perguntou a quem, no Brasil, beneficia a confusão entre “direito de expressão” e “direito de imprensa”.
Venício Lima respondeu: beneficia os grandes grupos de mídia.
É uma confusão deliberada, porque, como ninguém é contra a liberdade de expressão, misturar uma liberdade à outra é uma forma de assegurar a liberdade dos grandes grupos empresariais da midia (e só a deles – PHA).
O livro do professor Venício de Lima relembra as conclusões da Hutchins Commission – Uma imprensa livre e responsável.
Robert Hutchins, reitor da Universidade de Chicago, reuniu, entre 1942 e 47, treze personalidades do mundo empresarial, para, sob encomenda dos grupos Time-Life e Enciclopédia Britânica, entender por que a imprensa era tão criticada.
Para enfrentar os críticos, a Comissão Hutchins sugeriu que a imprensa praticasse o “bom jornalismo”, ou seja, respeitasse a objetividade – e separasse opinião de informação – , a exatidão, a isenção, abrisse espaço para a diversidade de opiniões ( e, não, só para o PUM – o Pensamento Único da Midia – PHA) , e buscasse o interesse público.
PHA perguntou se no Brasil, hoje, o PiG (a grande midia) respeitava os princípios desse “bom jornalismo” da Comissão Hutchins.
Venício respondeu: Não !
O professor Venício A. de Lima acaba de lançar pela editora Publisher o livro “Liberdade de expressão x Liberdade de imprensa – Direito à Comunicação e Democracia” .
Ele conversou com Paulo Henrique Amorim por telefone.
Sobre a diferença entre Liberdade de Expressão e Liberdade de Imprensa, Venício Lima explicou que “liberdade de expressão” é um direito do indivíduo, um direito fundamental do ser humano, o direito à fala.
“Liberdade de imprensa” é o direito de imprimir, “print” em inglês. Com o passar do tempo, o direito de imprimir se tornou o direito de grandes conglomerados empresariais.
PHA perguntou a quem, no Brasil, beneficia a confusão entre “direito de expressão” e “direito de imprensa”.
Venício Lima respondeu: beneficia os grandes grupos de mídia.
É uma confusão deliberada, porque, como ninguém é contra a liberdade de expressão, misturar uma liberdade à outra é uma forma de assegurar a liberdade dos grandes grupos empresariais da midia (e só a deles – PHA).
O livro do professor Venício de Lima relembra as conclusões da Hutchins Commission – Uma imprensa livre e responsável.
Robert Hutchins, reitor da Universidade de Chicago, reuniu, entre 1942 e 47, treze personalidades do mundo empresarial, para, sob encomenda dos grupos Time-Life e Enciclopédia Britânica, entender por que a imprensa era tão criticada.
Para enfrentar os críticos, a Comissão Hutchins sugeriu que a imprensa praticasse o “bom jornalismo”, ou seja, respeitasse a objetividade – e separasse opinião de informação – , a exatidão, a isenção, abrisse espaço para a diversidade de opiniões ( e, não, só para o PUM – o Pensamento Único da Midia – PHA) , e buscasse o interesse público.
PHA perguntou se no Brasil, hoje, o PiG (a grande midia) respeitava os princípios desse “bom jornalismo” da Comissão Hutchins.
Venício respondeu: Não !
domingo, 6 de junho de 2010
Frei Betto e os "oráculos da verdade"
Blog do Miro, por Altamiro Borges
O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos (O que é o Iluminismo?) sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos oráculos da verdade: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.
Esses, os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.
São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.
São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.
É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, gado doméstico, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.
Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam: Não pensem! Obedeçam! Paguem! Creiam! O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: Não pensem! Gastem!
Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a um rebanho de animais tímidos e industriosos, livres da preocupação de pensar.
O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. Consumo, logo existo, eis o princípio da lógica pós-moderna.
Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo.
Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.
Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.
Altamiro Borges, no Blog do Miro
A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o do vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurado por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.
A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.
Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Essa, a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.
O filósofo alemão Emmanuel Kant não anda muito em moda. Sobretudo por ter adotado em suas obras uma linguagem hermética. Porém, num de seus brilhantes textos (O que é o Iluminismo?) sublinha um fenômeno que, na cultura televisual que hoje impera, se torna cada vez mais generalizado: as pessoas renunciam a pensar por si mesmas. Preferem se colocar sob proteção dos oráculos da verdade: a revista semanal, o telejornal, o patrão, o chefe, o pároco ou o pastor.
Esses, os guardiões da verdade que, bondosamente, velam para não nos permitir incorrer em equívocos. Graças a seus alertas sabemos que as mortes de terroristas nas prisões made in USA de Bagdá e Guantánamo são apenas acidentes de percurso comparadas à morte de um preso comum, disfarçado de político, num hospital de Cuba, em decorrência de prolongada greve de fome.
São eles que nos tornam palatáveis os bombardeios dos EUA no Iraque e no Afeganistão, dizimando aldeias com crianças e mulheres, e nos fazem encarar com horror a pretensão de o Irã fazer uso pacífico da energia nuclear, enquanto seu vizinho, Israel, ostenta a bomba atômica.
São eles que nos induzem a repudiar o MST em sua luta por reforma agrária, enquanto o latifúndio, em nome do agronegócio, invade a Amazônia, desmata a floresta e utiliza mão de obra escrava.
É isso que, na opinião de Kant, faz do público Hausvieh, gado doméstico, arrebanhamento, de modo que todos aceitem, resignadamente, permanecer confinados no curral, cientes do risco de caminhar sozinho.
Kant aponta uma lista de oráculos da verdade: o mau governante, o militar, o professor, o sacerdote etc. Todos clamam: Não pensem! Obedeçam! Paguem! Creiam! O filósofo francês Dany-Robert Dufour sugere incluir o publicitário que, hoje, ordena ao rebanho de consumidores: Não pensem! Gastem!
Tocqueville, autor de Da democracia na América (1840), opina em seu famoso livro que o tipo de despotismo que as nações democráticas deveriam temer é exatamente sua redução a um rebanho de animais tímidos e industriosos, livres da preocupação de pensar.
O velho Marx, que anda em moda por ter previsto as crises cíclicas do capitalismo, assinalou que elas decorreriam da superprodução, o que de fato ocorreu em 1929. Mas não foi o que vimos em 2008, cujos reflexos perduram. A crise atual não derivou da maximização da exploração do trabalhador, e sim da maximização da exploração dos consumidores. Consumo, logo existo, eis o princípio da lógica pós-moderna.
Para transformar o mundo num grande mercado, as técnicas do marketing contaram com a valiosa contribuição de Edward Bernays, duplo sobrinho estadunidense de Freud. Anna, irmã do criador da psicanálise e mãe de Bernays, era casada com o irmão de Martha, mulher de Freud. Os livros deste foram publicados pelo sobrinho nos EUA. Já em 1923, em Crystallizing Public Opinion, Bernays argumenta que governos e anunciantes são capazes de arregimentar a mente (do público) como os militares o fazem com o corpo.
Como gado, o consumidor busca sua segurança na identificação com o rebanho, capaz de homogeneizar seu comportamento, criando padrões universais de hábitos de consumo por meio de uma propaganda libidinal que nele imprime a sensação de ter o desejo correspondido pela mercadoria adquirida. E quanto mais cedo se inicia esse adestramento ao consumismo, tanto maior a maximização do lucro. O ideal é cada criança com um televisor no próprio quarto.
Para se atingir esse objetivo é preciso incrementar uma cultura do egoísmo como regra de vida. Não é por acaso que quase todas as peças publicitárias se baseiam na exacerbação de um dos sete pecados capitais. Todos eles, sem exceção, são tidos como virtudes nessa sociedade neoliberal corroída pelo afã consumista.
Altamiro Borges, no Blog do Miro
A inveja é estimulada no anúncio da família que possui um carro melhor que o do vizinho. A avareza é o mote das cadernetas de poupança. A cobiça inspira as peças publicitárias, do último modelo de telefone celular ao tênis de grife. O orgulho é sinal de sucesso dos executivos assegurado por planos de saúde eterna. A preguiça fica por conta das confortáveis sandálias que nos fazem relaxar ao sol.
A luxúria é marca registrada dos jovens esbeltos e das garotas esculturais que desfrutam vida saudável e feliz ao consumirem bebidas, cigarros, roupas e cosméticos. Enfim, a gula envenena a alimentação infantil na forma de chocolates, refrigerantes e biscoitos, induzindo a crer que sabores são prenúncios de amores.
Na sociedade neoliberal, a liberdade se restringe à variedade de escolhas consumistas; a democracia, em votar nos que dispõem de recursos milionários para bancar a campanha eleitoral; a virtude, em pensar primeiro em si mesmo e encarar o semelhante como concorrente. Essa, a verdade proclamada pelos oráculos do sistema.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Veja, mas não me aborreça

Ontem, estava na fila do mercado aguardando minha vez e resolvi folhear a Veja para passar o tempo. Para passar o tempo inocentemente, li a matéria "A farra da Antropologia oportunista", uma daquelas que são auto-explicativas. Explico: una um belo título com a fotografia de Indíos, somado ao atual debate sobre a Usina de Belo Monte. Fiz a besteira maior de procurar referências e sendo este meu ato o grande causador deste post, um dia mais tarde, e espantando, fechei a revista ao ver Eduardo Viveiros de Castro "falando" que só era índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original. Acho que pela minha sonolência do momento, minha revolta se restringiu ao intervalo entre o bater de folhas da revista e entrar no carro para ir para casa.
Não fiquei exatamente surpreso com a matéria, pois não a li no inteiro teor. Fiquei aliviado ao ler o viomundo e o conversafiada hoje pela manhã,que ambos tinham uma manifestação do próprio Eduardo, ainda mais indignado, dizendo que queria muito saber quem tinha escrito aquela matéria mentirosa.
Me deixa surpreso sim, constatar que em meio à uma democracia que prega tanto a liberdade de imprensa e de informação, vivamos literalmente na Anarquia de Bakunin, e ainda que isso não fosse uma coisa boa, acabar por concluir que a direita realmente não existe, não tem nem virtude sequer fortuna.
Realmente, a Veja não quer que você enxergue.
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
Paulo Henrique Amorin
sábado, 1 de maio de 2010
Factory Girl

Existe uma barreira artificial entre as pessoas que querem ser diferentes e as que simplesmente despertam o sentimento de diferença nas outras, sem fazer muito esforço. Sem dúvida nenhuma, Andy Warhol continua sendo até hoje uma dessas que, inexplicavelmente, provocam um sentimento em todos que o conhecem. Ter contato visual com algo que Andy Warhol fez é suficiente para que não se passe indiferente.Os que gostam, conseguem enxergar nele uma magia de um gênio que recriou um conceito de enxergar um mundo à sua época. Os que não gostam,relutam em aceitar a arte tão óbvia, ou sem técnica aparente.
Seja para elogiar ou desmoralizar, é difícil ignorar Warhol.
Ao assistir ao filme, me convenci disto. Talvez o maior legado de Andy Warhol não seja o impacto ou a falta de criatividade na sua obra, ou qualquer outra coisa que faça com que as pessoas gostem ou odeiem alguma outra coisa. Chego a conclusão pessoal que Andy, foi uma destas pessoas que aproximam todas as outras através da linha tênue do livre-arbítrio. Se isto foi previsto por ele, devo então admitir sua genialidade. Seja qual foi a intenção dele, me parece que sua obra é apenas um instrumento para que as pessoas se questionem, e defendam seus pontos de vista com fundamento no princípio básico da liberdade, em que cada um deve escolher aquilo que acredita ser melhor para si mesmo.
No filme, Eddie Sedgwick ( Sienna Miller) parece ser o oráculo de Andy, e uma daquelas respostas que conseguem chegar antes de todas as perguntas. Afinal, o quê queria dizer Andy Warhol?
Talvez Andy mesmo não quisesse dizer nada. E é exatamente aí que está o grande segredo.
domingo, 18 de abril de 2010

Sorte ou azar, por ter nascido na terra dos Carnavais, terra esta que fazia sol de fazer o caboclo se arrepender de ter nascido e de presenciar a seca que faz o ovo fritar no chão batido e terra esta que chove e faz frio no mesmo dia, morava um dos deles, chamado Albuquerque. Costumavam lhe chamar pelo patronímico por ser tradição, fazia soar a importância da história da família, mas ele realmente não tinha importância social. Não era advogado, tampouco se formou em Medicina.
A terra dos Carnavais, era a de sua região, de longe a mais previsível. A menos efervescente em ideias, os que ali nasciam sabiam exatamente o que estariam fadados no decorrer de suas vidas. Alguns plantavam, outros tantos trabalhavam em escritórios, mas a maioria mesmo saía da floresta em busca de uma nova oportunidade na grande cidade. Esteticamente parecia uma cidade como qualquer outra: vias cheias de carro, trânsito insuportável e fumaça para todo o lugar; no mesmo local se concentravam sedes da burocracia carnavalesca, os órgãos do Estado, as universidades bolcheviques, gente correndo para matar o tempo, gente ganhando dinheiro em cima de tantos outros e tantos outros palestrando para matar a fome da grande maioria, enfim, um grande aborrecimente nacional. O fato é que ilusão ou não, o País se fantasiava uma vez por ano para travestir que na verdade, não era uma terra de verdade, e seus cidadãos, faziam com toda a pompa bravejar sua honestidade, hospitalidade, e força para lutar e caminhar mesmo com todas as dificuldades do Carnaval. Mas talvez o mais bonito, era o bom senso. Além de muitos se acharem inteligentes por sua educação política, o poliglotismo era muito valorizado. Há quem diga que quem falasse latim até conseguisse um lugar melhor no céu. E assim ia, como quase que uma escala pluviométrica, iam lhes enchendo a cabeça de que títulos pudessem ser como a água, para levar-los para algum lugar melhor. Com certeza, se não fosse a terra dos carnavais, a terra dos carnavais com certeza seria a terra dos títulos.
E não à toa, que voltemos na história de Albuquerque, que apesar de ter nascido e vivido e ter sido educado na terra dos carnavais, ainda era diferente. Sua família lhe estranhava pela sua ingenuidade, pela sua prestreza e pelos sentimentos que tinha pelas outras pessoas. Sentia pena e comoção quando via alguém com fome, mesmo que os traunsentes considerassem aquilo normal. Sorte ou azar, começaram a lhe enxergar como a própria revolução: era bizarro e ao mesmo tempo um guru dos tempos. Não entendiam porque não lhe convia seguir as regras que toda a história havia seguido. De seu modo de vestir à sua forma de pensar, diriam os burocratos em latim que era o próprio "ad hominem". Mas talvez o que mais chocasse era sua forma genuína de pensar: pensava por conta própria e isso era realmente perigoso. Lhe recorriam por vezes para tentar descobrir o que havia de errado, com insucesso.
Com esta história, Albuquerque nasceu e viveu. Sua família nada pôde fazer por muito tempo a não ser começar a cogitar a possibilidade de remendar Albuquerque, dando lhe trabalho e ocupação. Não que fosse um homem ruim, que precisasse de reabilitação. Ao contrário, tinha a mania irritante de ser bom e honesto, seu coração era visivelmente puro e dotado de boas intenções.
- Se queres subir na vida, precisa de um título. Apenas um título, qual seja ele. Será-lhe suficiente para arranjar algum cargo público, ou em alguma repartição burocrática nacionalista.Depois disso, é tudo ascensão. O que queres?
- Quero pensar para trabalhar, e não ao contrário. É possível?
- Veja. Fica mais fácil trabalhar para os papeis. Veja, o Estado tem muitos papeis nas suas salas, e isso é maravilhoso. Além disso, o Estado...o Estado somos nós- como se pudesse bradar na voz de Luis XV o l'État c'est moi.- Ora, trabalhar para os outros é loucura. Lisonjeios falam mais baixo que o próprio resultado, então terás que trabalhar de fato.
Albuquerque foi pensar. Matriculou-se no Liceu daquela terra, e seja em qualquer área da ciência propedêutica, teve a impressão de encontrar seu lugar finalmente. Seu mestre, Maximiliano, lhe adotou com certa compreensão pela sua história sofrida. Tinha algum sentimento desconhecido por aquele ser, sabendo que ele de fato não era normal. Ainda tinha dúvidas se era patologia ou dislexia, porém mantinha para si aquela opinião. Não suficiente suportar a situação por muito tempo, chamou Albuquerque no canto no final de um curso :
- É deveras diferente. Faz mais do que os outros, tem uma mania insistente de contestar aquilo que os livros próprios dizem. São eles a eterna fonte da sabedoria, não há um grão que poderás fazer para mudar teorias de toda a história.
- Prejudico-lhe?
- Não, mas poderás sofrer. Possivelmente sofrerás. Provavelmente sofrerás. Pensais por contra própria, e isso é demasiadamente perigoso. Altera o bom senso das pessoas; tapas de luvas dóem mais do que de verdade.
Na terra dos carnavais, o Liceu era quase que uma seita. Dali saíam as grandes cabeças, já reguladas e moldadas para ocupar os grandes cargos burocráticos. Dali, saíam mais forte por causa da tortura. Diziam que vedar a vontade de gritar de dor potencializava o seu título, e poderia cada vez mais suportar mais e mais sem que lhes incomodasse as opiniões injustas. Treinavam ali seres biologicamente superiores, pois saíriam em escala evolutiva visivelmente superior ao resto das outras pessoas. Em ultimato, veio o Sr. Maximiliano e lhe disse:
- Terás que sair. Não lhe suportam por causas das dúvidas que geras.
-Já sabia Sr. Maximilano.
Neste meio tempo, abriu o livro que carregava consigo e não por acaso leu ao mestre:
- "Ser normal é talvez a coisa mais útil e conveniente com que podemos sonhar. Mas a noção de ser humano normal, tal como o conceito de adaptação, implica limitar-se a média. Ser normal é o ideal dos que não tem êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidade acima da média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar a sua cota parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral a não serem nada senão normais significa o leito de tortura: mortal e insuportavelmente tedioso, um inferno de esterilidade e desespero".
- Sugiro procurar uma Igreja. Ela lhe acertará algo que falha.Tenho um Padre conhecido na Igreja Três-quartos; chama-se Antenor.
E cansado das intervenções alheias, decidiu Albuquerque procurar sua própria sorte. Nunca havia tido muita simpatia pelo Clero da cidade, não gostava das declarações dos padres nas paróquias e da própria censura da sua família em não ser praticante da religião, identidade da família e tradição na história da família Albuquerque por tantos anos, seria ele também a quebrar esse rito mais uma vez. Chegando em casa, a mãe lhe abraçou e parabenizou-o pela decisão.
- Finalmente terás uma vida correta!
Chegando na Igreja, confessou ao Padre seu incômodo:
- Sou correto demais, justo demais, honesto demais.
- É problema na tua essência; está desregulada. Acontece de ora em ora no momento da concepção, dizem ser um problema de fábrica. Talvez seja imprevisão nas peças do livre-arbítrio.
Albuquerque atalhou:
— E o senhor fica com o meu livre-arbítrio?
— Se o deixar.
Repousou-o dentro de uma caixa preta.
— Pois aqui o tem. Conserte-o. O diabo é que eu não posso andar sem ele, pelo menos para as decisões menos importantes.
— Claro. Mas, enquanto a arranjo, empresto-lhe um de plástico.
— Funciona?
— É de plástico. explicou o honesto Padre. Albuquerque recebeu o chassi de sua essência, enfiou a de plástico, e saiu para a rua.
Dois meses depois, Albquerque tinha a simpatia da vizinha, tomava cerveja com o Chefe da Repartição, ganhava uma pequena fortuna fazendo duplicatas frias para os comerciantes do país ao lado. Sua mãe via-o mentir, fazer mal, trapacear e ostentar tudo o que não era. Os parentes, porém, veneravam-o, e os companheiros não tinham saudades em recordar o tempo em que Albuquerque era desregulado. De fato não pensava, apenas agia como os outros. Queria subir mais alto, e esqueceu a ideia de andar para frente. Explorava, adulava, falsificava, extorquia, corrompia, tergiversava. Sua mãe se orgulhava vendo seu filho com juízo. No centro proletariado, o seu reconhecimento crescia; era bajulado dos chefes burocratas, da frota proletariada e dos irmãos bolcheviques da Rússia. Foi eleito representante por todos, e, especialmente, pelo presidente da República — A sua subida era comparada ao de um foguete rumo à Lua. Esqueceu rapidamento do passado doloroso, amava a sua terra. Era o modelo da felicidade. Regulava admiravelmente. Largou a dúvida para o passado.
Passaram-se assim anos. Todos os chefes políticos do País dos Carnavais encontravam divergências para encontrar o nome do próximo representante, e que fosse o expoente da norma, do bom senso. O nome de Albuqueruqe era o mais bem quisto. Então ele passeava de carro pelas ruas movimentadas, quando rememorou da Igreja que havia deixado seu livre-arbítrio. Tinha pressa, pois precisava chegar ao local da votação com rapidez e agilidade. Acreditou que 5 minutos ali não lhe fariam mal. Entrou na Igreja, e procurou pelo Padre Antenor.
- Veja, deixei meu livre-arbítrio há tempos para reparo. Por infortúnio, olividei-me de buscá-la.
- Não prossiga. Tenho aguardado ansiosamente pelo Senhor. Como está o de plástico? Regula bem?
- Absurdamente bem. Minhas dúvidas passaram.
- Olha, os livre-arbítrios de plásticos não são de toda a matéria ruim. São de fato provisórios, mas me espanta ter se encaixado com tanta perfeição no local em que ocupava a anterior.
- Porque ponderas?
- Bem, posso lhe dizer que em anos de Ministério, jamais encontrei artefato tão perfeito. É a placa precisa do próprio Universo, tem o equilíbrio das vibrações. Enfim, é atemporal. Tens uma obra-prima, um masterpiece de Sarte. Quiça me arrisco a dizer que isso é obra do próprio Deus.
Albuquerque hesitou em recolocar o antigo depois das considerações do Padre.
-Embrulhe-o por favor.
-Não o coloca de volta?
- Não, por favor.
- Ora Albuquerque, adverto-lhe que este não é utensílio trivial e cotidiano. Deve ser usado com um Tuxedo para festa de gala, caso contrário inevitavelmente dará de fatona cara. Fará com que se torne um homem superior.
Mas Albuquerque não era tolo, havia aprendido a respeitar a ordem social e a harmonia do homem-médio.
- Acredita causar discórdia mesmo se como objeto de decoração? Há chances de que fatalmente um dia ele me prejudique?
- Possivelmente. Ela fatalmente voltará a brigar com a sua consciência. Porque não tenta?
- Prefiro não arriscar. Prefiro ficar com a opinião dos outros, aquele que dizia que ele não servia. Livre-arbítrios devem estar em consonância com o clima e com as virtudes de cada povo, caso contrário podem fazer mal aos outros como eu mesmo fiz. Da nota que me deram em buscar sair da normalidade, conheci o homem-médio que sou, e para mim,convém-me manter assim.
-Leve-o consigo - mudando de ideia.
E assim, começou e terminou a história de Albuquerque, o homem que não conseguiu ser nada nem com nem sem o melhor do artefato já disponibilizado por Deus na terra dos Carnavais.
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